"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 31 de maio de 2009

Colega não é Amigo (Amizade é atributo do Céu, lugar que a escola não pode ser!)








Crônica

COLEGA NÃO É AMIGO (Amizade é atributo do Céu, lugar que a escola não pode ser!)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Quando começa o turno na escola, parece que todo mundo é amigo, é bom dia para cá, boa tarde para lá ou boa noite, enfim essa fantasia dura até quando precisamos de alguém para nos dar razão em detrimento de um preço qualquer. Até porque, são os colegas que nos vigiam para denunciar.
          Era para trocar de professor, minha vez, os alunos estavam quase todos no lado de fora, aguardando-me; entrei na sala, e eles continuaram lá, convidei-os para entrar, uns poucos obedeceram, então tomei uma medida enérgica, avancei para fechar a porta, eles correram e entraram. Porém, um que estava longe, na porta de outra sala, perturbando o outro professor, era um aluno indisciplinado daqueles que transitam à sala o tempo todo sem interesse comum, veio depois; ordenei que não entrasse mais, ele se precipitou, forçando a entrada, então segurei em seu braço e empurrei-o para fora.
          Tudo estava em paz; até aí, eu estava certo que naquela unidade escolar todos nós éramos amigos. Doce ilusão! O coordenador logo me chamou na sala porque a diretora queria falar comigo. Para mostrar a solidariedade do inferno, na trajetória, ele “simpaticamente” me disse:
          — Olha, vou te adiantar um segredinho para você se preparar, mas aquele menino te denunciou, dizendo que você unhou o braço dele.
          Ora o tal coordenador foi quem encaminhou o menino para a diretora e ali estava a diretora, o menino, a secretária; o coordenador tratou logo de pegar seu caderninho e redigir um relatório do ocorrido – por que não a secretária da unidade escolar?!
          Sentir-me como um pobre animalzinho acuado num beco sem saída quando a diretora, num tom autoritário como quem quisesse se autoafirmar, revelou de fato os sentimentos que tinha por mim, ("belos sentimentos"!) colocando-me em meu lugar:
          — Professor, você unhou o aluno, e aí como é que vai ficar?
          Eu depois de um silêncio constrangedor, sem mesmo levantar a cabeça disse;
          — Não tive a intenção de machucar o menino, apenas segurei em seu braço, para que ele não entrasse, fazendo  valer, assim, minha ordem de professor que queria disciplina, respeitando o direito dos estudiosos. Como ele deu um puxão, arranhou-se, uso minhas unhas grandes na mão direita para tocar violão. Aí, aplique as medidas cabíveis!
          Eu já passara por situação semelhante em uma outra unidade escolar municipal, na qual um grande amigo tornara-se coordenador de turno e quando mais precisei dele me disse que não podia fazer nada a meu favor, apenas me conduziu a sala da diretora. Sai daquele constrangimento, dizendo que ia mudar de escola, então rasgaram o relatório, por isso vim parar aqui.
          Mas, dessa vez, assinei o relatório e sai daquele ajuntamento com a amargura do desamparo dos "amigos". Alias, quem me pareceu mais amigo foi o menino que permaneceu calado e me contou no dia seguinte que o coordenador lhe ameaçara à suspensão se não contasse o que eu tinha feito, ditando-lhe o texto, e que a porteira servente também o tinha incentivado me “ferrar”, só se esqueceu mesmo foi de me mostrar o tamanho do arranhão que fiz em seu braço. Contudo, o perdão que devia lhe pedir na reunião, peço-lhe agora, acho que não fui o amigo suficiente para tolerar seu comportamento improdutivo. Devemos considerar, para a educação, o que diz Jules Renard: "Não há amigos, apenas há momentos de amizade". E estes para benefício próprio.
            Então, a professora odiada de todos os alunos e considerada disciplinadora pelos colegas, se manifesta na reunião pedagógica para sugerir aos demais que pense e faça como ela, senão uns serão considerados bonzinhos e ela o terror! Queria uniformizar o trato com os alunos e o formato da aula dos outros por medo de afrouxar e mesmo assim não cair na admiração deles. Esse tipo que mendiga a simpatia de aluno só parece bem intencionado, mas não contribui em nada com a educação, força a direção e coordenadores continuarem jogando toda culpa no professor. Que me explique os tais, se eu ministro uma boa aula de Lígua portuguesa no sexto ano B, excelente, e já não consigo no sexto A, sendo eu a a mesma pessoa, usando o mesmo método para o mesmo conteúdo, Onde está a culpa?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/06/2009
Código do texto: T1666585


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sábado, 23 de maio de 2009

A Re(des)orientação (A merenda os fortalece para a bagunça)


Crônica

A Re(des)orientação (A merenda os fortalece)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Eu li uma história, não sei mais onde, mas dizia que um certo senhor tinha um Fusca velho cuja buzina não funcionava mais. Então, ele procurou um mecânico, para trocar a buzina afônica. Quando chegou à oficina, as portas estavam fechadas, pois chovia no momento. Na entrada, havia um letreiro que dizia: “buzine para ser atendido”! Quais foram os sentimentos daquele motorista, são os meus agora, minhas palavras não tinham som! Sempre vou lembrar-me dos meus esforços para selecionar palavras adequadas para a reunião daquele oitavo ano, no qual estavam pais e alunos. Todos os professores estavam realmente preocupados com eles. A diretora, a secretária e os coordenadores faziam-se presentes, também. Haviam muitos problemas de indisciplina naquela sala. Muitos rapazes brigavam ali dentro, empurravam-se, xingavam-se e todo tipo de desrespeito aos colegas e à aula acontecia ali. Fiquei com medo que eles se vingassem de alguma forma: ameaçar-me de pegar lá fora, danificar meu veículo e ou me denunciar a quem quer que seja, pois é assim que sempre reagem quando os repreendemos mais duramente. Falei tanto que acabei falando demais, disse que tinha adotado um procedimento arrojado para tentar conter o mau comportamento dos indisciplinados: tirar ½ ponto a cada vez que chamar a atenção de algum ali. Esta atitude estava até funcionando, eu já estava conseguindo explicar alguma coisinha na aula que antes era impossível. Todas as minhas aulas consistiam em copiar do quadro ou atividade da página tal, valendo ponto. Nada mais dava certo!

          Uma mãe, antes mesmo de terminar a reunião, quando outro professor ainda estava falando, chamou-me à parte juntamente com sua filha, questionando-me se era legal tirar ponto de aluno, alegando ser conhecedora das normas, pois já trabalhara em escola. Então lhe respondi com outra pergunta:
          — É legal deixar sua filha perturbar todo mundo: gritar na hora da aula, entrar e sair a todo instante, correr dentro da sala, bater nos meninos, arrastar as cadeiras, jogar o lanche nos outros, brincando de guerrear e sem respeitar as advertências do professor? Porque esta tem sido a "contribuição" dela à escola e ao ensino nesta escola!
          Eu não quis manchar o brio da mãe, era apenas um desafio inútil, aquela moça deveria ter sido educada alguns anos antes. Agora a mudança tem que ser de dentro para fora. Tem que partir dos alunos e não da escola.
          Naquele mesmo dia, a aula seguinte, após a reunião, foi minha, estive com os 40 indisciplinados daquela sala, porque apenas 6 foram considerados bons, e tudo aconteceu como se nada tivesse acontecido, eles eram os mesmos. Ministrei mais outras aulas ali e nenhuma mudança, agora só eu mudei, não tiro mais ponto, parei de incomodá-los e de impedi-los de atingir seu único objetivo na escola: ter nota sem o conhecimento devido!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 24/06/2009
Código do texto: T1664436

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domingo, 17 de maio de 2009

O DIA DAS MÃES NA ESCOLA (Educação vem de berço)



Crônica

O DIA DAS MÃES NA ESCOLA (Educação vem de berço)

domingo, 17 de maio de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade
         Fazer as atas das reuniões de pais na escola, proporcionou- me um cotidiano diferente da sala de aula, e a oportunidade de observar o comportamento desse seguimento no espaço escolar  o que é mais gratificante ainda.
         O corpo docente sempre reclama que as mães ou responsáveis não veem perguntar sobre seus malcriados filhos/alunos. Marca reunião, testando todos os horários, mas a frequência é muito baixa. É diferente nos dias festivos, qualquer horário dá certo. Na terceira sexta-feira do mês de maio, foi comemoração ao dia das mães no turno matutino, o ambiente escolar ficou lotado. O irônico da situação é que sempre vem a família toda, porém para entrega de boletim ninguém tem tempo, mas desta vez, a mesa de frutas não deu para todos experimentar cada variedade que tinha ali, alguns avançaram com suas sacolinhas para tirar maior proveito possível, e outros mal provaram algumas bananas amassadas do final de festa. Foi tudo muito rápido, menos de cinco minutos já não se achava mais nada nem para olhar, imagine para comer!
         Agora penso que entendo por que alguns alunos veem à escola só para lanchar e, no mais, perturbar a paz de todo mundo.
         Superficialmente, parece que a relação família/escola é tranquila, doméstica. Contudo, há uma ansiedade pobremente escondida, crepitando pelas entranhas. Foram os alunos que trouxeram as frutas, subornados por pontos (nota)! Nisso existe um ar de desforra de ambas as partes que impede de os pais/responsáveis levarem mais a sério a escola, ficando ela no papel de marido desempregado, sustentada e sacoleada pela comunidade.
         Eu vejo nesses eventos festivos, para trazer os pais à escola, muito mais do que uma alteração da rotina, ou melhor, é uma corrosão da parceria comunidade/escola, é uma farra e descompromisso gerando a rivalidade que se estende até as salas de aula. A partir daí se torna frequente o que aconteceu na 
Escola Estadual David Nasser, no Jardim Macedônia, zona sul de São Paulo;  uma professora de Biologia, foi agredido a tapas por uma mãe de aluno dentro da escola. (http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/mae-de-aluno-agride-professora-dentro-de-escola-em-sp,5f6c42ba7d2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html). (acessado em 16/02/2013).
         Eu não sei em quem o professor vai bater nessa "briga", se apanha da mãe de aluno, apanha do aluno, apanha da coordenadora, apanha do colega, apanha do governo e, mais metaforicamente, apanha de seu estado de não reciclado e, com base nisto, muitos apanham até dos livros!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 17/11/2010
Código do texto: T2621447

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domingo, 10 de maio de 2009

A POLÍTICA EDUCACIONAL DO MEDO (Quem tem medo de quem?)



Crônica

A POLÍTICA EDUCACIONAL DO MEDO (Quem tem medo de quem?)

omingo, 10 de maio de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade
         Ocorreu-me que naquela manhã, fui chamado para dar explicações sobre a nota baixa da aluna comportada. Só comportada? Parece-me que até era evangélica! Todavia, o que importa aqui é que ela reivindicava nota 10. Esquecera de mostrar-me a sua atividade em tempo hábil, mas não queria “fazer feio”. Então, a coordenadora joga diante de mim um caderno mal aparentado, ali tinha um pequeno texto com uma caligrafia horrível, porém entendi perfeitamente as acusações que continha aquela “bomba”: não queriam perseguição. E havia a expressa ameaça de chamar a impressa, falar com qualquer que seja, levar o assunto à Secretaria de Educação, com certeza, caso a filha não ficasse com dez no boletim. Era a sua mãe, dando-nos lições de “justiça”. E não faltou quem a apoiasse, uns por medo do “problema” se avolumar; outros para evidenciar que a escola morre de medo diante da comunidade. O professor tem tanto medo de expressar seu pensamento que parece não pensar!
         Meu erro foi querer manter minha palavra, não quebrar minhas próprias leis, pensando eu que estava sendo um educador exemplar e amoroso, sabendo que “a lei protege o amor; não o leva cativo” (Dick Winn). Mesmo depois da mágica sugestão da gestora escolar, que me pedia para passar outra atividade, alegando à aluna maior momento de reflexão e aprendizado; cuidando da minha reputação e da reputação da escola, perpetuando a cultura do medo de parecer “mal na fita” ou simplesmente clamando por tal justiça, é, até que gostei! Só a coordenadora se recusava, para também fazer valer a sua proposta inicial que era dar nota na atividade atrasada da aluna, já que fizera, sem mesmo respeitar as considerações medrosas do professor. Mas, também, outros alunos descompromissados com a decência e a ordem foram lá para pôr “lenha na fogueira”! O que a coordenadora não percebeu é que o caso já estava em uma estância maior, era uma sugestão da diretora. Um medo suplantava o outro.
         Dei à aluna em questão uma nova atividade: fazer um texto de tudo que tinha aprendido sobre o entusiasmo. Estava coerente com a disciplina de filosofia, afinal foi isso que tratei, também, em nossas aulas desse primeiro bimestre. Depois, ela me entregou um texto evasivo, daqueles que se faz só para ganhar nota! Viabilizei o seu dez o mais rápido possível, confirmando assim a política educacional do medo.
         A comunidade nos mete medo! Será que temos motivos para isso? Talvez, se compreendêssemos o Maquiavel: "Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha."! 
          Com o outro medo, o de coordenador pedagógico, que obriga o representante de classe encher o caderninho de relatório, "detonando" o professor, é que o professor afrouxa as regras sendo "amigo" dos alunos, talvez use essa amizade para sublimar a deficiência didática dele.
         Confirma-nos Patrícia Rech: "A política do medo advém do chamado "paternalismo educacional". Não é preciso ter uma bola de cristal para ver os rumos que a educação de nosso país seguem: péssimos índices de aprovação, péssimos desempenhos registrados pelo MEC e por aí vai. E a culpa é de quem? Sempre do professor. Resignamo-nos a aceitar o que os governantes acham melhor, sem ao menos ouvir o pensamento de quem de fato faz educação: os próprios educadores! Enquanto aderirmos à política do medo, nunca haveremos de encontrar meios para promover uma melhor qualidade de ensino. Tudo o que deveras interessa são dados estatísticos. Educação não dá voto." 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 22/06/2009
Código do texto: T1661432

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sábado, 2 de maio de 2009

PARA O BOM ALUNO, IMPORTA A NOTA? ("A educação é o desenvolvimento no homem de toda a perfeição de que sua natureza é capaz." — Immanuel Kant)





PARA O BOM ALUNO, IMPORTA A NOTA? ("A educação é o desenvolvimento no homem de toda a perfeição de que sua natureza é capaz." — Immanuel Kant)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A manhã chegou, como tantas outras, marcada pelo som seco da sineta que reverberava pelos corredores, anunciando o início de mais um dia. Mas aquele barulho metálico, rotineiro, me levou a refletir: será que a educação que oferecemos ainda preserva sua essência, ou se perdeu em trocas superficiais? Na escola, tudo vale nota. Trazer o uniforme, organizar as cadeiras, comparecer à reunião de pais ou contribuir com um prato típico na feira cultural — cada gesto se traduz em um valor numérico. Uma lógica prática, é verdade, mas que parece subestimar a verdadeira finalidade da educação: aprender e crescer.

Essa sistemática transforma o aprendizado em moeda de troca. Ao observar os alunos, percebo que os "pontinhos" ditam comportamentos, criando uma rotina de subornos sutis. Quem atinge boas notas é recompensado com privilégios: a quadra de esportes, os elogios, o sorriso dos professores. E quem não atinge? Esses permanecem à margem, acumulando frustrações que logo transbordam. Vi olhares de vergonha se escondendo atrás de janelas, corpos imóveis nos cantos dos pátios, enquanto os risos dos colegas ecoavam.

A exclusão de uns e a exaltação de outros traz consequências mais profundas do que imaginamos. Para os alunos de notas baixas, resta o sentimento de derrota, uma desvalorização que os condena à apatia ou à agressividade como forma de resistência. Já os que ostentam boas notas enfrentam outro dilema: tornam-se reféns do número no boletim, esquecendo que o verdadeiro objetivo deveria ser aprender. Eles decoram sem compreender, acumulam estratégias para garantir resultados e, aos poucos, veem o prazer de aprender ser soterrado pelo peso de expectativas artificiais.

Essa dinâmica cria uma escola segmentada, onde a convivência se fragiliza e as desigualdades se ampliam. Os risos que deveriam unir acabam separando, alimentando rivalidades que, por vezes, se transformam em confrontos. Já testemunhei brigas que começaram com provocações e terminaram em feridas emocionais difíceis de curar. Em um ambiente assim, onde está a inclusão que tanto se prega?

Lembro-me de uma proposta da UNESCO, em 1989, sobre a criação de uma "cultura de paz". Derrubar muros e construir pontes, dizia o texto, deveria ser uma prática diária. No entanto, como promover a paz em uma escola que ergue barreiras invisíveis entre seus próprios alunos? Não basta falar de não-violência; é preciso agir contra a exclusão, contra as metodologias que reforçam desigualdades e silêncios.

A educação, no entanto, é um caminho árduo. O saber é doce, mas o processo de aprender é marcado por desafios. Para muitos, esses desafios parecem insuperáveis, e é aí que surgem os atalhos. Mas será que não cabe a nós, educadores, tornar esse caminho mais acessível, sem sacrificar a profundidade do aprendizado?

Ao final de mais um dia, enquanto o sol descia sobre os corredores vazios, a reflexão persistia: a transformação na educação não virá de uma fórmula mágica, mas de um esforço contínuo para resgatar o valor humano em cada aluno. Derrubar muros, simbólicos ou reais, não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente. Afinal, se queremos construir uma escola que ensine mais do que notas, precisamos começar pela base: a certeza de que o aprendizado é um direito de todos, não um privilégio de poucos.


Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:


O texto critica a transformação do aprendizado em uma mera troca de notas. Quais as consequências dessa visão utilitarista da educação para os alunos e para a sociedade?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre os impactos da valorização excessiva das notas e como isso pode limitar o desenvolvimento integral dos estudantes.


A exclusão de alunos com dificuldades de aprendizagem é um tema presente no texto. Como essa exclusão pode afetar o bem-estar emocional e o desempenho acadêmico dos estudantes?

A questão busca que os alunos compreendam as consequências da exclusão social na escola e como ela pode perpetuar desigualdades.


O texto menciona a importância da construção de uma cultura de paz na escola. Quais as ações que os educadores podem tomar para promover a inclusão e a convivência pacífica entre os alunos?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre o papel da escola na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.


A proposta da UNESCO sobre a criação de uma "cultura de paz" é mencionada no texto. Como essa proposta se relaciona com a prática pedagógica e como ela pode ser implementada nas escolas?

A questão leva os alunos a analisar as implicações da proposta da UNESCO para a educação e como ela pode ser aplicada no contexto escolar.


O texto critica a visão utilitarista da educação. Qual a importância de resgatar o valor intrínseco do conhecimento e do aprendizado?

Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o significado da educação para a vida e para a sociedade, além da mera obtenção de diplomas e empregos.


domingo, 26 de abril de 2009

NAS TETAS DA VAQUINHA (É vergonhoso querer aparecer com o chapéu dos outros!)







                             

Crônica

NAS TETAS DA VAQUINHA (É muito fácil fazer graça com o chapeu dos outros.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Aqui, estou eu, um observador silencioso no coração de uma escola, onde a vida pulsa em ritmo acelerado. A escola, um microcosmo da sociedade, é um lugar onde as pessoas se reúnem para aprender, ensinar e, frequentemente, para participar de um fenômeno curioso: a vaquinha.

A vaquinha é uma prática comum aqui. Para tudo, faz-se uma vaquinha: para celebrar aniversários, para comprar café, até mesmo para comprar papel sulfite. É uma maneira fácil de fazer caridade com o chapéu alheio. Mas, oh, como é difícil encarar o olhar de desapontamento do organizador quando, por algum motivo, você não contribui.

Lembro-me da última vez em que fui solicitado a participar de uma vaquinha. Era para a despedida da coordenadora substituta. Cinco reais era o pedido. Na semana seguinte, outra vaquinha, desta vez, para a recepção da coordenadora titular que voltava de licença. Usei a desculpa de sempre: "Não tenho dinheiro agora". No dia do evento, decidi não comer nada, estava constrangido, com a consciência pesada. Fiquei ainda mais desapontado quando vi, no final, as organizadoras enchendo suas sacolas com bolo para levar para casa. Benefício em dobro, pensei, por isso nunca faltará quem promova uma vaquinha!

Depois de muito esforço mental e reflexão, concluí que ninguém pode me forçar a demonstrar gratidão. A vaquinha me ensinou que ser grato é para quem pode, não para quem quer. E a espontaneidade? Quem merece gratidão não a exige e continua sendo amável, mesmo com os ingratos, porque a bondade não depende de condição.

Li que os funcionários da Escola Estadual Reverendo Jacques Orlando Caminha D'Ávila, no Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, estão fazendo vaquinha para garantir dinheiro extra aos servidores da escola que estão sem o bônus da Educação. As vaquinhas de lá parecem diferentes, mas... são uma espécie de "dízimo". Alguns preferem chamá-la de "boizinho", "bodezinho" ou algum outro apelido, mas o princípio é o mesmo: beneficiar os organizadores, forçar os colaboradores bajularem os superiores.

O que ainda não entendi é se, quando contribuo para a vaquinha, estou pagando por uma diversão forçada ou se estou pagando para trabalhar em nome da boa convivência! Que a tal vaquinha vá para o brejo e nos deixe em paz.

Sempre aparece um espertalhão para fazer graça com o chapéu dos outros! Vaquinha é isso, dividir a dor da consequência dos que transgrediram com quem não tem nada a ver. E se não contribuir, é tachado dos mais horríveis termos de bullying. Lembrando que Deus perdoa, mas não elimina a consequência. Que cada um pague o preço de seu pecado ou pague pela sua projeção! Eu odeio vaquinha, não quero ser trampolim para ninguém. Quando quero ajudar alguém necessitado, dou o que posso sem precisar de intermediário.

Os alunos sempre sabem por que foram dispensados mais cedo das aulas. Já pensaram se o mundo aprendesse o que a escola exemplifica! A escola, afinal, é um reflexo da sociedade ou a sociedade é um reflexo da escola? E, como tal, deve ser um lugar de aprendizado, não apenas acadêmico, mas também moral e ético. Que possamos aprender com nossos erros e buscar sempre a melhoria, não apenas para nós mesmos, mas para toda a comunidade escolar.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. Vaquinha: Caridade ou Extorsão?

O texto apresenta a vaquinha como uma prática comum na escola, desde a celebração de aniversários até a compra de materiais escolares. Como a sociologia pode nos auxiliar a compreender os diferentes significados da vaquinha, considerando as relações de poder, a pressão social e a cultura da doação?

2. Gratidão Obrigatória ou Autêntica?

O autor questiona a ideia de gratidão obrigatória presente nas vaquinhas, afirmando que ser grato é uma escolha individual. Como a sociologia pode nos ajudar a analisar a relação entre gratidão, reciprocidade e obrigações sociais, considerando as diferentes normas e valores presentes na sociedade?

3. Vaquinha e a Desigualdade Social:

O autor menciona o caso da Escola Estadual Reverendo Jacques Orlando Caminha D'Ávila, onde funcionários fazem vaquinha para ajudar colegas que não receberam o bônus da Educação. Como a sociologia pode nos auxiliar a compreender a relação entre vaquinha, desigualdade social e a busca por soluções coletivas para problemas individuais?

4. Vaquinha e o Bullying:

O autor critica a pressão social para contribuir nas vaquinhas, com o risco de ser alvo de bullying. Como a sociologia pode nos ajudar a analisar o impacto da vaquinha na dinâmica social da escola, considerando as relações de poder, a exclusão e o cyberbullying?

5. A Escola como Reflexo da Sociedade:

O autor afirma que a escola é um reflexo da sociedade, com seus problemas e desafios. Como a sociologia pode nos auxiliar a pensar o papel da escola na formação de cidadãos conscientes, críticos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo?

Bônus:

A Evolução da Cultura da Doação ao Longo da História:

Realize uma análise sociológica da evolução da cultura da doação ao longo da história. Como as mudanças sociais, as lutas por direitos, as diferentes correntes de pensamento e as descobertas científicas influenciaram as formas de doação e caridade em diferentes épocas e culturas? Quais os desafios e as oportunidades que a prática da doação enfrenta na sociedade contemporânea?

sábado, 18 de abril de 2009

DEMOCRACIA ILÍCITA ("Educar não é encher um balde, mas acender um fogo." — William Butler Yeats)



Crônica

Os corredores da escola possuem um silêncio peculiar, quase ensurdecedor. É um silêncio que fala, que narra histórias que nenhum conselho de classe consegue traduzir. Naquele dia, mais uma vez, o ritual se repetia. Aliviado por não estar entre os convocados, observei à distância a liturgia dessa dança onde palavras cortam mais fundo que lâminas.

Já participei de conselhos de classe o suficiente para reconhecer seu caráter antropofágico. Entre representações discentes e os olhares falsamente impassíveis dos coordenadores, o que se vê é um espetáculo no qual os professores são banqueteados. Cada crítica parece alimentar um apetite insaciável, não pela construção, mas pela destruição. Uma professora ao meu lado, em uma dessas ocasiões, desabafou com um misto de sarcasmo e frustração:

— Os representantes de turma são sempre os piores alunos. E, claro, eleitos por seus próprios pares!

Essa definição, embora carregada de ironia, ecoa verdades que preferimos não dizer. No conselho, os papéis estão bem definidos: alunos no banco dos juízes, coordenadores como escribas, e professores no banco dos réus, à mercê de veredictos emocionais e implacáveis. Não importa o quão bem você desempenhe seu papel, o tribunal já tem sua sentença.

Foi após um desses momentos que uma aluna, representante de turma, me abordou no dia seguinte. Sua expressão era tão séria quanto provocativa:

— Professor, o senhor vai estar presente no próximo conselho?

Havia mais do que curiosidade em sua pergunta. Era um desafio, um convite velado para mais um duelo metafórico, onde palavras seriam as armas.

Os conselhos deveriam ser espaços de troca, não de confronto. No entanto, transformaram-se em arenas de vingança, lugares onde se fala mal de tudo e de todos: professores, colegas, instalações. Sempre me pergunto por que ainda se insiste na presença de alunos nesse processo, quando suas vozes já ecoam em tantas outras instâncias, desde denúncias informais até relatórios formais.

Longe dali, refleti sobre como nossa educação se assemelha a um campo de batalha, quando deveria ser um jardim. Jardins exigem paciência, cuidado e, acima de tudo, compreensão. Cada planta cresce à sua maneira, nem sempre como esperamos, mas todas merecem atenção. O problema maior, contudo, não está no aluno que critica nem no professor que justifica, mas na ausência de respeito mútuo.

Na educação, assim como no futebol, todos se sentem especialistas. Todos têm opiniões e querem dizer como deveria ser feito, como se ensinar fosse um ato simples e mecânico, ao alcance de qualquer um. Mas, diferente do futebol, onde o jogo acontece atrás de bastidores bem orquestrados, na educação tudo é exposto. Não há ensaios, apenas o improviso do dia a dia.

Dar voz é importante, mas usá-la sabiamente é ainda mais. Conceder espaço a quem apenas ecoa críticas vazias não fortalece a democracia educacional; fragiliza o ambiente que deveria ser de construção. Se os conselhos fossem verdadeiros encontros de diálogo, talvez não saíssemos deles com a sensação de termos sido esfaqueados — metafórica ou literalmente.

Assim seguimos: eu, professor; eles, alunos; todos, aprendizes. E, no silêncio eloquente dos corredores, guardo a esperança de que um dia essa dança dissonante possa se tornar harmonia. Afinal, a educação não é sobre vitórias individuais, mas sobre o encontro humano, onde imperfeições e desejos se cruzam para criar algo maior.

5 Questões Discursivas sobre o Texto

O texto descreve os conselhos de classe como um "espetáculo antropofágico". O que o autor quer dizer com essa comparação e como essa dinâmica impacta o ambiente escolar?

Qual a função dos representantes de turma nos conselhos de classe, segundo o texto? Essa função é positiva ou negativa para o processo educativo?

O autor critica a falta de respeito mútuo entre professores e alunos nos conselhos. Como essa falta de respeito influencia a relação entre ambos e a qualidade do ensino?

O texto sugere que a educação é frequentemente comparada a um jogo. Quais as implicações dessa comparação para a forma como entendemos o processo de ensino-aprendizagem?

Qual a importância do diálogo e da escuta ativa nos conselhos de classe para a construção de um ambiente escolar mais saudável e produtivo?