"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MEU PROFESSOR CLAUDEKO (Um fio de cabelo branco no braço é somente um aceno do tempo )



HOMENAGEM

MEU PROFESSOR CLAUDEKO (Um fio de cabelo branco no braço é somente um aceno do tempo )

Por Peterson Borges  do Nascimento


                Falou um colega de classe, daquele segundo ano do Ensino Médio:

                — Olha, o professor tem um fio de cabelo branco no seu braço!

                Era um só, grosso e petulante, a desafiar a sua juventude no reflexo do espelho. Poderia ser um fio de barba, tanto faz; o significado é o mesmo!
                Fui, naquele dia, para casa e comecei a pensar na vida, o que exatamente isso significa? Cabelos brancos é para a velhice o que espinhas é para a juventude, ainda que estas com muito mais inconvenientes. As espinhas são um saco, mas anunciam uma fase cheia de vantagens: vigor, possibilidade de entrar em qualquer show e o fim dos apertões nas bochechas por tias chatas.
                Um fio de cabelo branco no braço não traz benefício. É somente um aceno do tempo, um lembrete daquela “moça” ou velha de roupão preto e foice na mão, dizendo:
                — Tu podes correr, mas o tempo está passando e no fim da linha eu te espero. Ouviste queridão?
                Será que a partir de hoje meu professor se tornou mais velho ainda? Não. Um fio branco não faz a velhice, assim como uma andorinha não faz um verão. Mas, afinal quando você deixa de ser jovem e começa a ser velho? Depende! Uma modelo tem seu auge aos 18, 19 anos. E um escritor, quando? Aos 60, 70? Alguns segundos antes de sua morte? Se a Gisele Bündchen é a imagem da juventude, a cada dia que passa ela é menos ela. Já meu professor vai se tornando mais ele, ano após ano.
                Mesmo que ele arrancasse o fio de cabelo não adiantaria, a virtude não é estética, é existencial.



Peterson Borges  do Nascimento ( aluno do 2º ano do Ensino Médio - 2009 - Colégio Estadual João Carneiro dos Santos. Senador Canedo - Goiás)

BONS ALUNOS HONRAM SEUS MESTRES - TENHO PRIVILÉGIOS MIL DE TER SIDO SEU PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA, PETERSON.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 04/06/2009
Código do texto: T1632144

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Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)



CRÔNICA

Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Por Claudeci Ferreira de Andrade


          Neste momento, reflito sobre aquela personagem do programa: “Zorra total da Rede Globo de Televisão". Uma médica que aconselhara, tantas vezes, os seus pacientes, para combater a obesidade, com um comportamento alimentar restrito; enquanto assim, para ela, tudo podia, “bombando” mais ainda sua própria obesidade.
          Estive num cenário parecido a uma “zorra total”:
          — Por que é sempre assim? – Jussara esbravejou. –Isto pode! Aquilo pode! Ali pode! Acolá pode! A escola é toda feita no “jeitinho brasileiro”, onde tudo pode! Estou farta de tudo isto! Não me sobra o direito de negar a esse brasilismo cultural!
          — Ora, Jussara – o professor colega de trabalho procurou acalmá-la – isto não é tão mau assim. Eu leio nos documentos oficiais da educação a proibição de muitas coisas. Porém, é mais ou menos como você está falando mesmo, é isso que vejo na prática, as pessoas podem fazer tudo que desejar, são livres! Você já devia ter se acostumado! Com efeito, os mentores dos documentos que regem a educação tomaram providências para que cada um faça exatamente o que deseja! Afinal, Vivemos em Democracia, né!
          — Você deve ter lido alguma coisa que eu não li – ela prosseguiu, com os olhos fuzilando – tudo que leio é isso pode, isso pode, isso Pode, e este “tudo pode” já se tornou uma obrigação, estou a ponto de detestar tudo.
          Jussara não era a primeira gestora escolar a se rebelar contra a permissividade obrigatória, a tal democracia educacional, que ela achava ser tudo na educação, pelo menos como lhe chegava ao entendimento, agora trazia-lhe o medo de perder o controle. Na verdade o seu colega de trabalho estava certo. O bom gestor não força seus liderados a fazer o que eles não querem. Com efeito, as normas e resoluções das secretarias de educação deixam sempre umas brechas, privilégio de quem sabe ler bem: Quem tem maior conhecimento de mundo sabe  fazer exatamente o que favorece as estatísticas e o seu lado!
          Esta verdade do "jogo de cintura" por parte do brasileiro é tão velha como o próprio homem. Diariamente você e eu enfrentamos estímulos semelhantes. Até Deus coloca as oportunidades fáceis e difíceis diante de nós, para exercermos a esperteza, parece até que o céu e o inferno são burláveis. Mas, resta uma coisa a ponderar, o resultado do trabalho em equipe traz exatamente a cara da relação e do respeito de seus liderados para com o gestor. Na escola, não pode camiseta de time, não pode boné, não pode celular, não pode reprovar, não pode nada; também não pode aprender, pois o não não ensina nada. Ali, os melhores lugares são reservados para os piores alunos, é só conferir o mapeamento da sala: os bons podem sentar-se atrás.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 21/05/2009
Código do texto: T1607143

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PRESENTEANDO GREGO ("Presente de Grego você ganha sempre de um aproveitador, Hoje você ganha e depois você paga por ele!!!" — Marcos Dantas)



CRÔNICA


PRESENTEANDO GREGO ("Presente de Grego você ganha sempre de um aproveitador, Hoje você ganha e depois você paga por ele!!!" — Marcos Dantas)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


          Quanto aprendemos sobre a amizade de nossos alunos e seus relacionamentos interesseiros! Já dizia um colega professor de muitos anos:
          – Aluno quer boa nota !
          Uma vez, caí em uma armadilha de uma aluna, ela tentou se vingar de mim pela sua iminente reprovação, quando já estava decidida a parar de estudar, por isso não precisava mais ninguém da escola, elaborou um plano macabro no qual jogava toda culpa em mim. Através de muitas mentiras cobrou o preço de minha reputação, envolveu até o seu marido que depois veio me afrontar. Isso tudo poderia ser evitado com boas notas. 
          Inúmeras vezes, tenho recebido agressões verbais daqueles a quem devo amar e ensinar, tipo: “Lá vem esse velho caduco de novo”! “Ah, não”! “Êta, professor chato”! “Ninguém merece duas aulas seguidas desse quadrado, "Bob Esponja”! Dói-me, nem tanto as frases em si, mas o tom das expressões acompanhado com gestos bruscos de repugnância. Tenho essa relação como um lugar escuro, uma espécie de poço, com apenas uma minúscula abertura em cima, por onde entra um pouco de luz, a esperança de que tudo mude no futuro, pelo menos para mim, com a aposentadoria merecida.
          Esta é a prova do que disse anteriormente: Quando o colégio, no qual trabalho até hoje, foi incendiado por alunos do mesmo, queimando assim todos os diários de classe, então fui orientado a dar notas: o critério era apelar para sua consciência; como a consciência de cada um trabalha a seu favor, só me falavam de notas boas, as quais anotava ali. Nunca tive tantas manifestações de aceitação como naquela época. É possível que esse clima tenha contribuído para minha frouxidão atual. Mas, não podemos cometer o crime de dar notas em troca da amizade passageira de alunos transitivos.
          Porém agora, consumindo-me numa “prisão”, acusado de um crime que não cometi: por apenas ser velho; eu preciso de amigos verdadeiros. Embora a certeza de que ainda estou sendo útil à sociedade e de que mereço mais respeito e retribuição, é natural que as circunstâncias façam-me suspirar por palavras de encorajamento da parte dos que comigo partilham a esperança bendita do crescimento cultural. O pior é que eu não tenho nenhuma palavra otimista para eles. O aluno que ameaça o professor e esculacha o sistema, brigando por nota, sua reputação vale apenas a nota que conseguiu no grito. Agora acostumados a passarem de séries nem mérito para elevar as estatísticas do sistema, já não se preocupam tanto com boas notas, vão passar mesmo!
          A maioria dos alunos não é diferente do resto do mundo, essa é o tipo perfeito dos amigos de bons tempos. Até entram na sala dos professores, tomam talagadas do café comprado com a “vaquinha chorada” com que eles jamais colaboraram, depois colocam Chumbinho e Acetona no resto, para vingarem-se dos que não lhes dão notas boas (http://g1.globo.com/educacao/noticia/2011/05/violencia-dos-alunos-provoca-stress-pos-traumatico-em-professores.html)—Acessado em 28/04/2019. 
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 20/05/2009
Código do texto: T1604053

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

AFINAL, UM COORDENADOR (— Quero vingança, esse professor não pode ficar impune!)




CRÔNICA

AFINAL, UM COORDENADOR (— Quero vingança, esse professor não pode ficar impune!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


          Que cena! Um Bedel saindo de sua sala em direção à sala dos professores, acompanhado de uma mãe possessa por um espírito de protecionismo; esta saiu de sua moradia próxima da escola, furiosa, braços agitados selvagemente, os cabelos curtos e poucos, mas esvoaçados e destratados; ela veio ao encontro da diretora. Porém, o coordenador de turno a atendeu.
          O problema era eu, porque arranquei sorrateiramente da mão de sua filha um aparelho celular! Que a deixasse, com o qual, perturbar ignorantemente minha aula! Uma péssima aluna; daquelas que não respeita ninguém, e abusa da confiança de seus pais para explorar tudo que pode. Mais uma vez, mentiu para sua pobre mãe, dizendo que bati em sua mão, ferindo-a, mas apenas peguei no aparelho e puxei. Se o celular caísse, eu não conseguiria pegá-lo, pois um grupo de aluno assistia, com muito prazer, aos vídeos pornográficos que ela tinha para mostrar; certamente estava bem protegida! Segui o procedimento de praxe, entreguei o objeto ao bedel para que ele tomasse medidas justamente cabíveis. E assim foi feito.
          Com a mesma voz de autoridade com que aquietou centenas de outros enfurecidos, o coordenador falou com experiência à mulher. A “selvagem” criatura se aquietou, e se humilhou, como se um espírito imundo tivesse saído dela. A desventurada mulher compreende estar ali perto alguém que a pode salvar do atormentador professor. Cai aos pés do “salvador” para suplicar misericórdia; mas, de repente quando os seus lábios se abriram novamente, o demônio falou por ela, bradando: — quero vingança, esse professor não pode ficar impune!
          Parece-me que aquele espírito pediu para entrar em mim, quando saísse daquela mulher. Fiquei enraivecido ao extremo, quando soube das mentiras ditas por aquela família, naquela ocasião, a meu respeito.
          Agora estou precisando de um coordenador pedagógico que me exorcize para que eu retorne à sala e veja impassivelmente aquela moça com os ouvidos entulhados de fone auricular, ouvindo sei lá o que, conectado no celular em questão.
          Em nossos dias, agregou-se à imagem do coordenador de turno, a de um libertador de pessoas cativas do espírito da rebeldia, da preguiça, da selvageria, do medo, da violência, enfim, dos espíritos maus do academicismo. Tenho esperanças! O mal da “educação” sairá quando lhe for ordenado que saia com voz poderosa de medidas reais, de normas democráticas, de fidelidade aos bons princípios morais da convivência cristã e de programas inclusivos bem dirigidos.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 19/05/2009
Código do texto: T1603219

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PEDAGOGIA LUDICISTA ( Como pretende a escola de tempo integral preencher o tempo das crianças? )

                

CRÔNICA

PEDAGOGIA LUDICISTA ( Como pretende a escola de tempo integral preencher o tempo das crianças? )

Por Claudeci Ferreira de Andrade


           Quando os alunos da escola pública pensam em uma aula dinâmica, tendem a ligar essa ideia com jogos, entretenimentos, diversões e festas. Quão fugazes são, porém, esses prazeres! Que podemos dizer do jovem bonito e saudável que, na propaganda, desfruta do sabor, o aroma, o prazer de determinada marca de cigarro? Atualmente há bem pouca dúvida de que não só o câncer, mas também o enfisema, doenças cardíacas e transtornos nervosos darão fim, prematuramente, a esse prazer que a propaganda não mostra. 
          Todas as atividades recreativas parecem ter certos fatores em comum. Elas debilitam o gosto dos alunos para o andamento de uma aula normal de didática que ensina conteúdos acadêmicos da matriz curricular. Os jogos destroem a fibra moral e pode tornar-se uma perturbação psicológica. Eles debilitam o intelecto por ocasionarem demasiada excitação; fazem com que as pessoas pensem mais no momento e em si, e menos no futuro e nos outros; e exigem porções cada vez maiores a fim de manter o mesmo estímulo que antes, como o efeito das drogas. Veja que ninguém pratica uma mesma dinâmica de grupo por duas vezes com o mesmo prazer!
          As aulas-show são prazerosas, sim, mas efêmeras e transitórias. Professores por certo saboreiam desse fruto por alguns momentos. Alunos apreciam sua tigela de lentilhas até compenetrarem-se de que perderam o direito de aprender mais e da forma séria, não leviana. O benefício ideal está na dose certa dos alimentos naturais! O que realmente é necessário à educação para vida? Tudo isso tem muito a ver com o assunto do equilíbrio.
          Já lhe sucedeu estar sentado num ônibus quando outro ônibus se achava parado ao lado?  De repente teve a impressão de que o seu ônibus estava partindo, até verificar que era o outro que se movia em direção oposta. Isto pode ser aplicado aos que procuram diversões nas escolas. Eles não devem surpreender-se ao constatar que não estão obtendo alegria, e, sim, perdendo a oportunidade de apoderar-se do conhecimento que interessa para a verdadeira alegria.
          Atividades, brincadeiras e esportes que fortalecem o corpo, que desenvolvem as faculdades e habilidades, que nos põem em contato com o ar puro, que aliviam a mente após um período de estudo ou de trabalho sedentário, que desenvolvem a cooperação e a amizade são recomendáveis aos alunos e professores que se prezam, desde que, naturalmente, não diminuam o tempo ou o interesse dedicado a atividades mais importantes e não ocorram a expensas do dinheiro, da saúde ou do bem-estar de uma outra pessoa.
          A pedagogia ludicista que produz hilaridade disparatada, excitação inútil ou impetuoso espírito de competição é prejudicial. Como pretende a escola de tempo integral preencher o tempo das crianças?  Termino esta crônica por aqui com as palavras de Andrea Ramal: "O bullying é uma “brincadeira” na qual apenas uma das partes se diverte, enquanto a outra sofre."
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 18/05/2009
Código do texto: T1601279

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RECEPCIONISTA OU PORTEIRO? ( De qual a escola precisa mais?)



RECEPCIONISTA OU PORTEIRO? (De qual a escola precisa mais?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em uma análise final, o pensamento do porteiro do colégio onde trabalho permanece em sua forma mais simples: "é muito melhor ser um humilde servo na portaria da unidade escolar do que ter qualquer espécie de reconhecimento entre os que desprezam a educação".

Quando planejei escrever esta crônica, pensei nas funções mais nobres existentes em uma escola pública. Concluí que a portaria é uma delas, pois o porteiro é a primeira pessoa responsável pela acolhida da comunidade externa e interna. A escola pública, nosso "segundo lar", já não é mais um lugar seguro. Ouvi de um porteiro que levou empurrões e só não apanhou dos alunos porque não reagiu. E de outros mil e um casos em que o porteiro sofreu maus tratos dos que deveriam ser agradecidos, até pelo bom-dia ou boa-noite com que lhes cumprimenta!

Embora fosse ofendido em outro lugar que não fosse em seu ambiente de trabalho, pelo menos por uma pessoa qualquer que não fosse aluno, o servidor declarou que "é muito melhor ser um humilde servo na portaria da unidade escolar do que ter qualquer espécie de reconhecimento entre os que desprezam a educação".

A posição de homem que guarda a portaria já foi mais prestigiosa. Muitas repartições públicas e particulares têm essa seção, inclusive as igrejas. Encerrava, porém, certa honra, pois não era qualquer pessoa que podia estar tão ligada a uma função tão "sagrada", lugar de primeiras impressões. Além disso, se essa honra não é conferida pela própria tarefa, pode ser obtida realizando-a com esmero.

A escola pública hoje em dia necessita mais de recepcionistas do que de porteiros no sentido literal. Quando os membros da comunidade interna e os visitantes chegam à escola para tratar de quaisquer assuntos, quão agradável é serem recebidos junto ao portão por uma pessoa sorridente e cordial, com cumprimentos fáceis, a informação precisa e talvez um livro de registro de assuntos pendentes dos visitantes! Como faz jus uma instituição de ensino. Provavelmente esse tipo de recepcionista nunca será ofendido ou maltratado. Mas, o antigo adágio: "as primeiras impressões são as que perduram" encerra boa psicologia. E o espírito com o qual os visitantes tratarão os demais que toparem pela frente naquele ambiente polido, e a recordação que levarão consigo, pode ser determinada pela espécie de recepção que lhes é prestada junto ao portão.

Segundo a concepção popular, o porteiro tem que ser um homem forte, musculoso, bem fardado e armado: um segurança. Ou do tipo dos recepcionistas do "Vapt-vupt" que constrangem com uma notória falsa cordialidade, bloqueando a presença espontânea de quem se aportar por ali, com os chavões: "Pois não?!" "O que deseja?!"

— Se não desejo nada, estou inadequado! – diria qualquer curioso.

Mas, não precisa ser assim o porteiro de um recinto educacional. Na realidade, apenas precisa de alguém que faça qualquer um da comunidade sentir-se privilegiado de se colocar em pé junto ao portão do prédio escolar.

A TRAVESSIA DE CORNÉLIO (Um grande amor não morre assim. )


CONTO 

A Travessia de Cornélio ( Um grande amor não morre assim. )

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          A viagem seria uma tentativa para resgatar a vida a dois.  Para isso, comprou uma motocicleta que não era das melhores, mas era novinha. Cornélio e sua amada esposa foram visitar os pais dele numa aventura incomparável! Uma paradinha de direito aqui e acolá, descanso merecido: na beira da BR 153.  Foram seis dias de pouca velocidade e muito calor, ida e volta, para uma estada de quatro dias apenas, em território tocantinense. Na sua cidade de origem, fazia poera! 
     Com a chegada do casal da cidade grande, o pessoal de lá não tinha como conter tamanha felicidade, foi o melhor natal dos últimos vinte anos para seus pais. Foi o que disseram, isso pude ver bem claro. O que não ficou claro foi o motivo da indiferença de quem era nora e se dizia apaixonada por viagem: Jacobina, uma mulher de vinte e cinco anos de idade, muito bonita, dissimulada e se trajava com o esbanjamento de uma prostituta “classe A”, acompanhava à risca as personagens das novelas televisivas e especialista em futilidades. Aliás, o tratava como um “leproso”, não gostava de sexo, entretanto se deitava com ele, para essa finalidade, a cada quinze dias, quando insistia muito. Além da força dos seus sentimentos, valia a pena suportar esta situação, por que se beneficiava da companhia de uma bela mulher e das lições de vida, ele queria se mostrar! E na viagem, nenhuma palavra de elogio, ouviu só repreensões pelas passagens nas quais conduzia a moto com destreza e aptidão! Fez-se de palhaço para agradar e gastou mais do que o planejara.
          Entre as poucas palavras que ouviu dos lábios finos os quais tentara, sem sucesso, muitas vezes beijar, foi dentro do banheiro de um hotel em Rialma, já na volta, o primeiro de raspão!
          —“É muito chato!”
          Jacobina, apesar de ter empenhado todo esforço para provar que era superior a ele, se dobrava de vez em quanto, com o aparelho celular e um mapa rodoviário em punhos, para lhe falar a hora e verificar o trajeto. Ele havia investido na pessoa que mais confiava: a navegadora do percurso.
          Já no final do pesadelo, de volta ao “leito sem mácula”, como assim acreditava Cornélio, ouviu dela, como nunca ouvira dantes, o brado de alegria na chegada ao último viaduto, ali no Novo Mundo:
          — Graças a Deus estamos chegando!
          Não reagiu à expressão que o fez vibrar involuntariamente, pois ele ainda estava atônito centrado na inocência, cego pela parcialidade, surdo pela dissonância irritante do silêncio, mudo pelas as mil conjecturas amontoadas em sua cabeça.
          — O que eu fiz para tanto merecer? – apenas, perguntou Cornélio a si mesmo com a voz da alma.
          Mas, tinha uma razão aparente para agradecer a Deus: estavam com vida, naquele pôr-do-sol da sexta-feira, vinte e nove de dezembro de dois mil e seis. Precisaram só de mais dez minutos para reabrir aquele portão verde morto, ensombrado pela o vigor da ferrugem. A casa estava em estado de abandono, carecia de uma arrumação, afinal estavam por nove dias fora. 
        Uma saudade diferente espetava o coração de Jacobina, era tamanho o desejo da carne que perdeu o senso do perigo: Chico, nome de santo, despojado do mundo, amante do bem! Verso Cornélio, traído e inconveniente, e, por ironia do destino, estava em férias, não arredava o pé, queria gozar tudo que tinha direito. Jacobina num “pé-e-noutro”, procurando espaço para destilar o mel que prometera ao outro.
           Mal pôde esperar o sábado, Jacobina chegou da faculdade mais cedo, mesmo depois da farra com todos os seus colegas de curso, era horário de verão, o dia estava claríssimo. Para o bem da justiça, Cornélio não estava em casa, deu uma saidinha.  Ele sabia a hora que sua amada chegava para recepcioná-la a tempo, mas ela chegou cedo demais, vestiu-se de uma malha colada e uma camiseta bastante cavada, exibindo todas as suas belas formas arredondadas; assim como quem vai fazer “ginástica”. Ligou para o Chico e saíram passeando pelas ruas da pacata Prostilândia.
          Por quatro meses estavam assim, ninguém suspeitava, cobriam-se com um manto de convento. Porém, desta vez foi diferente, Cornélio viu. Mandou a embora de sua casa, por pouco não aconteceu uma tragédia. No entanto, não mediu bravura para romper os seis anos de casamento. Ele era um homem humilde e trabalhador, vinte e dois anos mais velho que ela, mas sua fisionomia não o denunciava, cristão fervoroso e por muitas vezes dizia:
          — Ninguém consegue enganar um homem de Deus por muito tempo.
          É verdade, ele estava com a razão. O destino o ajudou com ideias criativas a seu favor. Agora  precisava provar para a sociedade sua justiça. Então, foi urgentemente à prestadora de serviço telefônico com a ajuda de um detetive e solicitou um extrato de todas as ligações da Jacobina dos últimos trinta dias. Qual não foi sua constatação, ela tinha feito apenas quatro legações para ele, e constavam quarenta e oito para o número ****6126 e mais de dezoito torpedos (SMS) para o mesmo.
          — É!! O amante sempre tem um pouco mais! – dizia Cornélio inconformado.
          Porém, uma semana depois, ele inspirado na leitura da história bíblica, bem sucedida, de Oséia, que comprou de volta sua esposa Gômer depois de abandonado por ela com três filhos pequenos, os quais não eram seus biologicamente. Cornélio foi à luta, como quem não queria perder o pouco que lhe restava, mandou buquês de rosas, mensagens românticas e declarou todo o seu amor incondicional; concedeu-lhe o perdão, mesmo sem ela desejá-lo. Depois de tudo, Ele ainda queria força para continuar lutando, porque a amava de verdade, mas era uma decepção atrás da outra. Perguntava a ela todas às vezes que podia:
          — Você me ama?
          — Eu gosto de você, não sei se te amo!
          Sobretudo, Como resultado das chantagens dele, uma vez e outra, Cornélio se encontrava com Jacobina. O combustivo estava acabando! Porque, sempre nas despedidas tinha que ouvir:
          — Você não pode me beijar assim no meio da rua, estamos separados.
          Era apenas um beijo no rosto, mas não podia! Cornélio não estava lutando com um único adversário, antes e depois do Chico tinham outros, o amante revelado era só para disfarçar. Não tinha futuro promissor, pois tinha apenas o Ensino Fundamental, trabalhava fazendo faxina, porém era calmo e sigiloso, totalmente submisso, mas, também, não era o homem ideal para ela.
          — Então, querem dizer que eu e o Chico somos usados como trampolim para o projeto de vida depravada dela?! Ah, vou dar outro rumo à minha vida, se Deus quiser restaurarei meu lar, e terei parentes ao meu redor, para minha segurança na velhice.
          Depois disso, Cornélio “descobriu o Brasil”, caiu na vadiagem, levou uma vida errante e aplicou toda malandragem que aprendera com a Jacobina, todavia, assim que soube, depois de cinco anos da separação, que sua amada estava, por um acidente de moto, paraplégica, recomeçou a visitá-la no intuito de continuar a conquista. — Um grande amor não morre assim. Tem um preço!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/04/2009
Código do texto: T1558623

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