CRÔNICA
UMA ESCOLA CRIATIVA DIZ MENOS “NÃO” ("EDUCAR NÃO É CORTAR AS ASAS, E SIM ORIENTAR O VOO.!!!" – Madre Maria Eugênia)
Naquela manhã, ao cruzar os corredores da Escola Senador Canedo, deparei-me com um cartaz provocador: “É proibido mini-saia e micro-saia”. Embora a grafia estivesse distante das normas ortográficas, a mensagem taxativa permanecia clara. O aviso arrancou-me um sorriso irônico e despertou reflexões profundas. Qual seria, afinal, a diferença entre mini e micro? Será que algum colegiado pedagógico mediu com rigor os centímetros dessas peças? Contudo, percebi que a questão ia além das medidas: tratava-se de poder, moralidade imposta e da vigilância constante sobre os corpos, em especial os femininos.
Enquanto olhava o cartaz, meus pensamentos se voltaram para as adolescentes, essas jovens em construção, divididas entre insegurança e ousadia. Para muitas delas, vestir-se é mais do que um ato cotidiano: é uma expressão silenciosa, uma busca por aceitação e pertencimento. Porém, o cartaz parecia enviar uma mensagem oposta: “Você não pertence. Não assim, não desse jeito.” Quantas dessas jovens se sentiriam apagadas, reduzidas a regras que ignoram sua singularidade e seus anseios?
A escola, por essência, deveria ser um espaço de acolhimento e construção, não de castração. A máxima “educar não é cortar as asas, mas orientar o voo” ressoava em minha mente, em contraste com as normas arbitrárias e moralismos que podam o potencial criativo e emocional dos alunos. É provável que os idealizadores do cartaz não compreendam que a verdadeira falha está em negligenciar os vazios existenciais desses jovens, preferindo soluções simplistas para problemas complexos.
Essa situação me fez refletir sobre o papel da escola, constantemente sobrecarregada com funções que extrapolam seu escopo original. Em vez de priorizar o desenvolvimento do pensamento crítico, a curiosidade e a construção do conhecimento, as escolas se tornam espaços de controle e vigilância. Os resultados de avaliações como a Prova Brasil e o Saeb ilustram bem essa crise: alunos que enfrentam dificuldades básicas em leitura, escrita e raciocínio lógico, mas que estão cientes das regras para o comprimento de suas saias.
Apesar desse cenário, conheço educadores que desafiam a lógica do controle, apostando na criatividade e no diálogo para transformar o ambiente escolar. Uma professora de matemática, por exemplo, utiliza a calculadora do celular como ferramenta pedagógica. Outra, de sociologia, criou a “colinha educativa”, incentivando os alunos a registrar ideias e insights em seus aparelhos. Essas iniciativas mostram que a inovação é possível quando se prefere o “sim” ao “não”. Concordo com Nathalia Goulart quando diz: “O celular é isso, é uma forma de transmitir conhecimento. Claro que algumas escolas proíbem-no porque não sabem o que fazer com o aparelho.”
Nesse contexto, a adoção de uniformes pode ser uma solução viável para atenuar desigualdades e evitar a imposição de regras sobre vestimentas. Padronizar as roupas ajuda a neutralizar diferenças sociais visíveis, dispensando proibições que muitas vezes alienam mais do que educam. No entanto, mais do que uniformizar, é indispensável investir em uma educação que resgate a autoestima dos jovens, preparando-os para enfrentar os desafios do mundo com autonomia e confiança.
Ao sair da escola naquele dia, as palavras de Madre Maria Eugênia ecoavam em minha mente: “Educar não é cortar as asas, mas orientar o voo.” O cartaz, no fim das contas, era apenas um sintoma de algo maior: uma educação que se desviou de seu propósito essencial. Ainda assim, acredito que é possível resgatar esse propósito, trocando proibições por diálogo e regras por acolhimento. A reflexão da psicóloga Élide Camargo Signorelli também me acompanhava: “Uma verdadeira preparação para a vida reservaria lugar para certo despreparo no sentido de se estar aberto para o desconhecido e para os mistérios.” E, diante dos avanços tecnológicos, atrevo-me a acrescentar: talvez, em breve, os computadores sejam nossos novos professores.
Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:
1. Qual a crítica central do autor em relação ao cartaz que proíbe o uso de mini e micro-saia na escola?
2. De que forma o texto relaciona a questão do vestuário com a busca por identidade e pertencimento entre os jovens?
3. Como o autor contrapõe a visão de uma escola como espaço de controle e punição à ideia de uma escola como espaço de acolhimento e desenvolvimento?
4. Quais exemplos de práticas pedagógicas inovadoras são apresentados no texto e qual a mensagem transmitida por esses exemplos?
5. Segundo o autor, qual o papel do uniforme no contexto escolar e qual a solução mais abrangente para os problemas educacionais apontados?