"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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terça-feira, 30 de junho de 2009

Professor, cadê seu texto? (Os verdadeiros cegos são aqueles que veem, mas preferem ser mal conduzidos.)


CRÔNICA


Professor, cadê seu texto? (Os verdadeiros cegos são aqueles que veem mas preferem ser mal conduzidos.)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ontem, enquanto caminhava pelo corredor da escola onde leciono há mais de duas décadas, ouvi uma frase que me fez parar: "Faça o que digo e não faça o que faço." A ironia daquelas palavras, pronunciadas por um colega professor a um aluno desatento, ecoou em minha mente, levando-me a refletir sobre o poder da influência em nossas vidas.

Como educadores, frequentemente caímos na armadilha de pregar a importância da leitura e da escrita sem demonstrá-la em nossa própria conduta. Exigimos textos bem escritos, mas quantos de nós realmente nos dedicamos à escrita além das anotações no quadro? Esta contradição entre nossas palavras e ações ilustra perfeitamente como a influência age de forma silenciosa e poderosa.

Lembrei-me de uma cena cômica no refeitório da escola: um aluno bocejou e, em segundos, uma onda de bocejos se espalhou pela mesa. Até eu, observando de longe, senti a vontade de bocejar. Este simples episódio demonstra como somos influenciados pelos outros em cada aspecto da vida, desde os gestos mais triviais até as decisões mais complexas.

O Talmude sabiamente observa: "Uma ovelha segue a outra." Esta frase sintetiza a essência da influência. Não são apenas os humanos que sucumbem a esse poder; até os animais são tocados por ela. Um antigo provérbio chinês diz: "Não os gritos, mas o voo do pato selvagem leva os demais a voar e a acompanhá-lo". O exemplo não precisa de palavras para ser entendido; ele fala por si, e quem observa, mesmo que inconscientemente, segue o rastro deixado.

Como professor, tenho visto ao longo dos anos o impacto que nossas ações têm sobre nossos alunos. Aqueles que se dedicam à leitura e à escrita, compartilhando suas produções com a turma, exercem uma influência muito mais profunda do que aqueles que apenas cobram sem demonstrar. Não há como ensinar o que não se sabe fazer; não há como guiar onde não se esteve.

Recordo-me de um momento marcante em minha carreira, quando pedi aos alunos que escrevessem um ensaio sobre um tema complexo. Diante de seus olhares apreensivos, percebi que era minha responsabilidade mostrar o caminho. Sentei-me e, junto com eles, comecei a escrever. O silêncio na sala foi quebrado apenas pelo som de canetas deslizando sobre o papel. Ao final daquela aula, não apenas eu tinha um texto para compartilhar, mas cada aluno havia produzido algo do qual se orgulhava.

A escrita, percebi, é uma forma de condução. Quem escreve tem o poder de guiar o leitor por caminhos de ideias e emoções. O leitor, por sua vez, tem a liberdade de seguir ou divergir, de concordar ou discordar. Mas é na interação entre escritor e leitor que se constrói o verdadeiro diálogo. Como disse a professora Lourdinha: "Os verdadeiros cegos são aqueles que não veem a ordem e, por isso, preferem ser mal conduzidos."

Ao final desta reflexão, lanço um desafio a meus colegas educadores: sejamos exemplos vivos daquilo que pregamos. Que nossos alunos nos vejam lendo, escrevendo, questionando e aprendendo. Pois é através de nossas ações, muito mais do que de nossas palavras, que exercemos nossa influência mais profunda e duradoura. A influência é como um bocejo – sutil, mas irresistível. Ela se espalha, silenciosamente, de um para o outro, moldando comportamentos, atitudes e pensamentos. O que fica é a certeza de que, mais do que palavras, são nossas ações que deixam marcas profundas nas vidas que tocamos.

Encaminhamento de Percepção

1 Quão influente é o exemplo?

2 O que acha do pensamento: Só se aprende escrever escrevendo!

3 Como cobrar para ensinar o que não sabe fazer?

4 Têm os outros professores de outras disciplinas obrigação se saber escrever bem para exigir dos seus alunos melhor desempenho?

5 Por que os rebeldes à leitura são considerados os verdadeiros cegos?


segunda-feira, 29 de junho de 2009

QUEM É O PROFESSOR MAIS FELIZ?











QUEM É O PROFESSOR MAIS FELIZ?

segunda-feira, 29 de junho de 2009
 Claudeci Ferreira de Andrade

            Os diferentes cursos de graduação, na maioria das vezes, são escolhidos não por grau de vocação a uma profissão, mas por amor ao dinheiro e ao emprego, visando apenas maior segurança material.
            Almejemos  sim, da segurança desse pretenso emprego; não renunciemos a possibilidade de um salário que nos será proporcionado justamente. Porém, nessa extremidade estão os professores de "sangue azul" que renunciam ao sacerdócio e à vocação, e procuram evadir-se aos bons princípios éticos, focalizando apenas a possibilidade de melhorar financeiramente. Mesmo assim, conscientemente, alguns entram na obra como mercenários por "merreca"; outros, às vezes, já a muito tempo no trabalho, continuam desprezando até mesmo seu público alvo que surpreendentemente "paga o pato", não passa de coisa. E ainda procuram provar seu triunfo fora do que os profissionais de boa índole mais prezam: os valores internos. Ainda, às vezes, perdem de vista o pagamento justo pelo que fazem e querem muito mais, atirando-se nos movimentos grevistas e atraindo a infâmia sobre todos nós. Esta dedicação interesseira ao magistério cativa admiração de muitos até, e deixa pouca esperança para o resto da categoria.
           Para sermos felizes, precisamos ser superiores não somente ao dinheiro e seus males, mas também a seus valores. Não há dúvida de que muitos devotam ao magistério e satisfazem suas necessidades materiais, isto é, ganham o dinheiro que precisam! Mas, não há como alcançar a felicidade, exercendo uma profissão totalmente desprovido de amor à causa. O salário é consequência.
           São mais felizes os que estão livres da dominação do egoísmo. O professor deve ser senhor de todas as coisas. Quem quer que vá pela vida, supondo que a felicidade e a satisfação virão mediante a prosperidade material, abrindo mão das coisas da alma, ficará desapontado. Sacrifício é sempre um serviço de amor: amor ao próximo e à profissão.
           Neguemo-nos a nós mesmos e nos demos aos outros em serviço útil. Nosso verdadeiro relacionamento com o professorado não é simplesmente sobrepormo-nos a ele, nem, principalmente, dele obter riquezas materiais, mas amá-lo como Cristo amou o mundo e morreu para salvá-lo. Amemos o professorado, porque na atividade do vocacionado há vida real. Deixe o professor a sua vocação e não haverá para a sociedade valores morais, nem vida, nem futuro. A vocação restaura no homem o supremo valor profissional e seus atributos reconciliam no homem o trabalho e o prazer. Em qualquer profissão podemos acumular grandes riquezas, podemos melhorar as condições humanas; tudo isso seria possível, também, com uma atuação desvocacionada, mas os homens ainda estariam perdidos, se o amor não fizesse a diferença. Só é feliz o professor que ama o que faz, independente do que ganha para fazê-lo.

 Encaminhamento de percepção

 1- Deveria um professor, devotado ao Professor dos professores (Jesus Cristo), participar de movimentos grevistas por melhoria salarial em detrimento aos transtornos educacionais e a despeito do que possa manchar sua imagem missionária?
 2- Que relação contemplamos com respeito à formação acadêmica e o desempenho de um professorado próspero?
 3- Quais são as características de um professor vocacionado?
 4- Que efeitos chegarão a um professor insatisfeito com seu trabalho – a ele e a seu público?
 5- O que significa amar o que fazemos?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 26/07/2009
Código do texto: T1719745

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

LIÇÃO ECOLÓGICA (Alguém fez isso!)











LIÇÃO ECOLÓGICA (Alguém fez isso!)

por Claudeci Ferreira de Andrade

          Da vila Galvão para o terminal do Novo Mundo não é muito longe, mas para mim, foi uma eternidade. Já eram 6 horas da tarde quando estava de volta. Tive que dividir, no ônibus, um banco de dois assentos com uma jovem de mais ou menos 16 anos que me fez refletir em coisas profundas da alma: o que é nossa vida?! Fui motivado a chegar a respostas deprimentes ao contemplar sua aparência que era digna de compaixão: tinha os cabelos tingidos de louro, amarfanhados, na verdade era uma espécie de matiz esfumaçado de preto com louro; seu cheiro era uma mistura de urina com álcool; suas roupas, que mal cobriam as vergonhas, não tinham cor definida, eram pura sujeira. Olhei para os seus pés, estavam descalços, sujos e com unhas crescidas.
          Encolhi-me em meu canto, quando percebi que ela se movimentou para me dirigir a palavra; que hálito insuportável! Seus lábios estavam inchados e inflamados. Falou-me do aparelho celular que acabara de roubar de um homem bêbado, queria se desfazer do tal objeto rapidamente por medo de ser apanhada pela polícia, então insistia para eu comprar o telefone por dez reais; apenas abanei a cabeça algumas vezes em sinal de reprovação e me virei para a janela, desejando que tivesse mais espaço naquela direção. Mas as circunstâncias forçaram-me a me reportar mentalmente para outro cenário.
          Lá fora, visto que passávamos na GO-403, às margens do rio meia-ponte, no meio dele, contemplei uma garça paralisada a espreita de algo que pudesse alimentar-se, já que ela não podia roubar celular para vender. Pensei, tendenciosamente, olhando apenas para mim mesmo, que a situação da garça solitária se assemelhava mais com a minha do que com a daquela jovem. Porém, logo depois, concluí que, por ter de suportar o mau cheiro daquelas águas poluídas e o roçar morno da correnteza opaca na pernas, por horas a fio, de plantão e não ter pescado nada, se é que tinha algum peixe ali para ser pescado, a garça assemelhava-se mais com ela naquele momento! Ora se parecia comigo, ora com ela!
           Só contemplando um pouco mais a alteração artificial da paisagem, visível a olho nu, e a contaminação do meio, palpável, pude ver, cá no ônibus, a minha semelhança com a maltrapilha! Que situação a nossa! Por que a garça não tinha suas penas branquíssimas como deveriam ser!? Seria uma camuflagem! Uma nova espécie!? Ou essa contaminação lhe incomodava? Certamente! Corajoso e atrevidamente me virei para minha parceira de viagem e perguntei se suas roupas sujas lhe incomodavam. Não! Justificou-se, dizendo que a culpa era de alguém, assim como o rio a sujou, e alguém sujou o rio. Estremeci pela a evidência de que a jovem também contemplava a garça encardida e tinha as mesmas impressões que eu. Naquele momento, desfizeram-se todas as nossas diferenças, ela também pensava, não apenas vegetava, ou melhor, isso fez a diferença, apreendi. Somos vítimas igualmente. Alguém fez isso e não foi a chuva! Ou seja, Deus!

Encaminhamento de percepção

 1- Reflita também sobre a pergunta: O que é nossa vida?
 2-Que tipos de vícios relata a crônica e qual é o grau de influência nas situações mencionadas?
 3-Qual seria sua reação se encontrasse alguém como essa jovem?
 4-Em que circunstâncias a garça suja e solitária pode ser tanto o narrador personagem, quanto a jovem maltrapilha?
 5- Por que o narrador chegou a pensar que a jovem não teria sensibilidade suficiente para relacionar as situações?
 6- A quem se refere o texto na frase: “Alguém fez isto”
?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/07/2009
Código do texto: T1718151

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

LENTES DE ALUNO (Os jovens precisam mais de modelos sociais e não de grevistas)





















LENTES DE ALUNO (Os jovens precisam mais de modelos sociais e não de grevistas)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Escrevo esta crônica, especialmente, supondo que sempre há um ou outro aluno contemplando longa e constantemente a vida de seus mestres e procurando imitá-la; com certeza, sei que conseguirão. Mas, uma coisa gostaria de saber: É a nossa vida assim digna de imitação? Tudo que nossos alunos precisam é de exemplos de amor e justiça para segui-los!
Suponhamos que alguém lhe dê uma paleta, pincéis e tinta, e mande você imitar um mestre da pintura. Quantas horas necessitaria para estudar suas pinturas? Isto na verdade não é impossível. O mesmo aconteceria se tivesse de imitar um famoso cantor, e muitos o fazem. Quantos dias, meses e anos de prática seriam necessários para chegar a imitá-los? Na verdade, com muito esforço, um dia tudo será possível. Porém imitar os bons é muito necessário e urgente, visto que o dia já declina. Falo, sobretudo, da arte de moldar o caráter como parte da responsabilidade social, um talento que Deus deu a todos. Aliás, uma habilidade que Deus não negou a nenhum de nós, bastando apenas desenvolvê-la dentro dos moldes da contemplação: é molduragem do caráter 
Como podem imitar a seus professores e líderes por olhando-os longamente, examinando-lhes cada movimento e cada palavra que eles proferirem sem copiar deles também o caráter? Isto acontece espontaneamente; é uma imitação natural. Aconselho que continuemos com a disciplina pessoal do eu, em concentração constante, com pouco ou o mínimo possível do tempo de lazer (afrouxamento dos princípios morais) para maior dedicação à formação pessoal para a vida: disciplina. Já é o que a nova escola pretende: “educar para vida”. Que redundância,  se isso a própria vida já o faz. Volto a afirmar, os alunos precisam, na verdade, é de professores formadores de bons cidadãos, motivados de dentro para fora; isso implica verdadeira reforma em sua natureza interior, transformação essa inspiradora nas nossas demonstrações: modelos sociais e não de grevistas. Por isso, nós, mestres, chefes e líderes precisamos nos regenerar primeiro e viver uma vida socialmente “ideal”, porque somos lentes para nossos seguidores. Então, a você que segue meu conselho: ache-se em si mesmo antes de imitar-me; saiba quem você é, e aonde quer chegar; não seja apenas uma conformidade externa, mas uma resposta espiritual.
Os bons exemplos não se relacionam com os outros tão fluentemente como os fazem os maus exemplos, que são atrevidos. A imitação do mau deixa-nos afastados de nós mesmos, entorpecidos. Nesse caso, quando procuramos reagir e viver como os bons vivem, o fazemos sob nossa própria força é assim que funciona, precisamos da fé e obras. Lembremos que os bons precisam comunicar aos maus, cada dia, nova vida. Precisamos ser o amor personalizado. Nada menos que isto satisfará a demanda vigente.  Assim é a experiência do mestre que também é aprendiz. A harmonia social depende da proliferação dos bons.

Encaminhamento de percepção

1-Onde a escola peca quando se propõe a educar para vida?
2-O que vale mais na arte de ensinar: o palanque do professor ou o seu exemplo de vida dentro e fora da sala de aula?
3-Quando decidimos resolver os problemas a nosso modo, com nossas próprias forças, sem contar com a ajuda de Deus, o que acontece?
4-A vida de nossos professores modernos é digna de imitação?
5-Em que condição nossos mestres, chefes e líderes devem ser imitados?

O NOVO BRASIL DAS REVOLTAS ("O gigante acordou" mais pobre, brigando por vinte centavos!)
























O NOVO BRASIL DAS REVOLTAS ("O gigante acordou" mais pobre, brigando por vinte centavos!)

Quinta-feira, 26 de junho de 2013
Por Claudeci Ferreira de Andrade
          Desejaram-me um feliz Brasil velho. O velho Brasil  de outrora com sua carga de boas recordações que perdurará para a eternidade, e continuará sendo sempre o melhor. Que todo pensamento, todo sentimento, agora sejam das boas lembranças do que passou. Tenho uma feliz lembrança após a outra; só assim amenizo as algozes interrogações do presente momento: Que novo Brasil das revoltas é esse!? O PASSADO NÃO RECONHECE O SEU LUGAR. Então, tenho que concordar com Simeyson Silveira quando disse: "Não consigo entende quem procura obter pela força o que pode ser conseguido pela persuasão, nem quem prefere a violência, quando a concórdia é igualmente eficaz. Onde reina a violência, a razão se aniquila." (Brasil. O povo vai às ruas em busca de quê? DM-OP 26/06/2013).
          A evidência da necessidade que tenho, do cuidado e do amor de Deus em dose dupla, a cada instante vindouro, é expressa na desestruturação causada pela já prevista destruição do patrimônio físico e moral dos brasileiros. O meu olhar calejado demora-se sobre um vácuo, ou melhor, num vazio e num horizonte novo e incerto, onde tudo me faz desejar a situação anterior. Como diz o outro: "eu era feliz e não sabia". Ouço sobre maldição, sobre a pobreza que tem sido provida tão abundantemente para dificultar nossa sobrevivência neste mundo de bonança e me pergunto: em que consiste a minha parte na grande trama da politicagem reinante? É que, ainda, contudo, me desejaram um feliz ontem! Eu também como peregrino, como estrangeiro em busca da estabilidade, trago-lhes a alegria do velho Brasil, e digo-lhes que busquem razões para praticar bons princípios inabaláveis e depois podem me esquecer se puder. Considerando as provisões feitas por nós, e falando sobre os benditos momentos passados, não se esqueçam também dos novos aborrecimentos e aflições desta vida vindoura. Nesse particular  parecemos respirar a mesma atmosfera destes últimos dias: o melhor, porque ainda nos resta este! Assim ficamos aliviados e confortamo-nos uns aos outros; mais do que isso, regozijamo-nos em Deus.
          Não poderíamos conhecer o que nos acontecerá no futuro, a não ser pelas experiências do passado, pois é somente por elas que sabemos o que está preparado como uma colheita infalível. Como as flores, na sábia disposição de Deus, estão constantemente extraindo as propriedades do solo rico de restos mortais, assim é conosco. Extraímos das vivências passadas toda a paz, conforto e esperança que desenvolverão em nós os frutos da alegria e da fé. Ao trazer essas cicatrizes à nossa vida presente, sempre as comunicamos à vida dos outros, por isso, também, desejo-lhes um feliz passado. Devo me aquietar esperando do novo, desconhecido, uma melhor saída das tribulações? Que preciosas lições de otimismo, ética e cidadania vocês têm para me ensinar do meio dos tumultos e gritarias das ruas? Outra coisa que temos em comum: confiamos serenamente em Deus e O louvamos por nos ter dado tais revelações de sua vontade e propósitos, através da Bíblia Sagrada: "Os homens escarnecedores abrasam a cidade, mas os sábios desviam a ira. Um tolo expande toda a sua ira, mas o sábio a encobre e reprime." (Pv. 29:8,11).  Para que prossigamos nesta vida com segurança, apesar do caos: Pós-revoltas; é preciso obediência e disciplina. Disse Platão: "Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado."

Encaminhamento de percepção

 1-Devemos nos aquietar esperando do Novo Brasil uma melhor saída das tribulações presentes, com a metodologia das revoltas?
 2-Que preciosas lições de otimismo, 
ética e cidadania  você tem para ensinar do meio de uma passeata dessas?
 3- Depois de assistir aos noticiários sobre o acordar do gigante, se você fosse saudado  com um “feliz Brasil velho” ainda sentiria dificuldade para dizer que era feliz e não sabia?
 4- O que o texto revela sobre as implicações da transição dos tempos, considerando a passagem de uma “era velha” para uma “era nova”?
 5- Justifique o título com a situação dos que receberam pedradas, tiros com bala de borracha, comércio depredado, a moral vilipendiada, a isolação, o afastamento e o desemprego.
7- O que aconteceu digno de repetição do impeachment de Collor até o passe livre no transporte público?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 23/07/2009
Código do texto: T1714555

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HIERARQUIA ÀS AVESSAS



 

 

 

 

 

 

 

 

HIERARQUIA ÀS AVESSAS

Por Claudeci Ferreira de Andrade


           Ouvi de minha coordenadora pedagógica, que ali, naquele colégio, havia professor que fazia um rascunho de suas provas com respostas, porque não as sabia e precisaria “colar” para corrigir as respostas dos seus alunos. Fiquei indignado. Seria essa uma forma pedagógica de orientar um professor!? Eu sempre fiz gabarito para facilitar a correção das provas de meus alunos, que são muitas. Minha preocupação foi tamanha, que me levou a entrevistar alguns colegas. Contei o incidente à professora de sociologia e perguntei se ela entendeu a observação da professora-coordenadora. Ela pensou e disse:
           — Eu a comparo com uma assistente social de uma grande cidade, que descobre um homem velho e andrajoso, vivendo na mais completa miséria, num escoadouro abandonado. Essa assistente resolve, então, fazer algo por esse ancião; ela lhe proporciona um banho e novas vestimentas, coloca-o num confortável lar para a velhice. Alguns dias depois, o velho desaparece. Volta para o seu abrigo anterior, alegando ter acostumado a viver naquele lugar. Assim é um professor de muitos anos de classe.
           Seria verdade que ela falou de mim! Sou um professor de um bom nível (Pós-graduado), cheio das titularidades, apesar de mergulhado numa rotina: é assim que sempre funcionou.
           Desta vez, fui ter com o professor de história. Contei o incidente, a comparação da socióloga e perguntei o que ele pensava disso:
           — Por isso penso que, na escola, ainda, estamos há alguns séculos, durante o feudalismo no Japão, quando era costume um homem carregar seus idosos pais ao alto de uma montanha e deixá-los ali, para morrerem de fome e frio. De acordo com esse costume, quando uma pessoa completava setenta anos de idade e não era mais produtiva, a sociedade não tinha mais nenhuma obrigação para com ela. O sistema vai lhe vomitar, é só uma questão de tempo.
           É, se bem que a coordenadora devia ter um pouco de paciência comigo. Vai ver, talvez, nem seja eu! Ela sempre fala a mesma coisa para muita gente. Até porque eu sou um professor tradicional e um tradicional gosta do outro!
           No dia seguinte, falei com o professor de ciências e contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador e perguntei o que ele pensava disso:
           — No meu tempo de aluno no colegial, conheci um mágico. Um de seus truques consistia em esvaziar reiteradas vezes um jarro de água sem acrescentar-lhe a menor quantidade desse líquido. Não sei exatamente como ele fazia isso com um jarro de vidro transparente; mas, se estou bem lembrado, toda vez que ele esvaziava o jarro, a quantidade de água despejada era menor do que na vez anterior. Esvaziar-se do próprio eu assemelha-se em alguns aspectos com o que o mágico fazia: você é o jarro do mágico; um velho profissional que se mostra cheio, mas oferece um conteúdo cada vez menor.
           Eu não sou egoísta, apenas não deprecio a mim mesmo e não estou centralizado no meu próprio eu. Será que minha própria pessoa não deve, portanto, receber a mínima consideração?
           Outra vez, falei com alguém; contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador, a ilustração do professor de ciências e perguntei o que ele pensava disso:
           —Acho que para um escultor deve ser um problema dificílimo pegar um pedaço de mármore recusado, há anos, por um outro escultor mais talentoso, com uma figura parcialmente acabada e transformá-lo naquela que ele tem em mente, uma perfeita estátua. Você veio de outras mãos que desistiram, depois de tanto tempo precisa-se de um milagre para fazê-lo um espetáculo.
           Não, não me acho intratável, além do mais, quero melhorar. Bastava ela dizer que era eu o tal professor e eu não faria mais gabarito.
           Naquela noite, falei com o Cristo e contei o incidente, a comparação da socióloga, o comentário do historiador, a ilustração do professor de ciências, a fala do alguém e perguntei o que Ele pensava disso:
           —Eu, com esse incidente, ampliei sua capacidade de amar, porque, tanto para ensinar quanto para aprender, precisa-se de amar. Ninguém jamais deu tão grande lição de amor como Eu: ao deixar sem condenação a mulher adúltera; ao fazer do ladrão um amigo crucificado ao Meu lado; ao perdoar alegremente a Pedro que Me negara; ao orar pelos que Me crucificaram. A minha norma de amor prefere um pecador que ama a um “santo” que não ama. O amor vem de outra demonstração de amor. Sua capacidade de amar a outrem está na medida em que deixe que Eu o ame, ou melhor, está na raiz de nosso relacionamento. Aprouve-Me redimi-lo a fim de torná-lo uma pessoa amorável. O Meu amor perdoa todos os seus pecados: triunfa sobre todo o egoísmo do coração, sobre sua impaciência, hostilidade, ressentimento, inveja, ciúmes. Eu sou o professor de todos os tempos. Também sou tradicional.
           Depois desse encontro, nunca mais falei sobre o incidente. Lembrei dele quando assisti ao retorno da coordenadora à regência em sala de aula. Posteriormente, soube que ela solicitou uma vaga para a coordenação novamente, pois não conseguia mais lecionar (Os coordenadores pedagógicos são assim, põem-nos na sala de aula, e eles contratam um substituto atrás do doutro) — A indisciplina estava demais.

 Encaminhamento de percepção

 1- Segundo a coordenadora pedagógica, o rascunho para colar é prática de quem não tem capacidade. Você concorda?
 2- Um professor com experiência de muitos anos em sala de aula(tradicional) está inadequado para “dar aulas” nos dias de hoje?
 3- A que se atribue a atual indisciplina em sala de aula e a falta de vontade do aluno para o aprendizado?
 4- Por que as ações de um coordenadora pedagógica transformam tanto sua unidade escolar, tornando-a obsoleta quando no futuro esta retorna à regência em sala?
5- Pedagogo lecionando para o Ensino Médio é leigo, e o Licenciado em outra área, exercendo função de coordenador pedagógico é o quê?
6- Se a escola existe para hierarquizar as pessoas na sociedade ascendentemente, por que um graduado em pedagogia coordena um doutor em linguística que está em sala de aula lecionando?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 22/07/2009
Código do texto: T1713722

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PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)



PAPU(DA) CABEÇA (Lições de ética!?)

segunda-feira, 29 de junho de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade


          Às vezes, sem querer, ouvimos comentários constrangedores. Eles vêm, quase sempre, de quem aplicou alguma desforra em alguém. Para esse ostentador, independente de quantas pessoas estejam ouvindo, é um culto ao seu ego. Em uma dessas circunstâncias, na biblioteca de uma das escolas em que trabalho, ouvi o seguinte diálogo entre duas pedagogas, coordenadoras de duas escolas vizinhas:

          — Menina, você não sabe o que me aconteceu ontem no matutino! Uma turma lá fez bagunça demais, e a diretora, como castigo, me convocou para dar a sexta aula nessa turma. Eu disse não; imagina compartilhar o castigo com eles! Então, ela chamou um professor que passava por ali, exatamente aquele comissionado que não pode perder o emprego. Coitado, os alunos saíram da sala, e ele ficou falando sozinho! Agora pense se isso acontecesse comigo, eu hein!? Mas, eu sou de sorte mesmo, sabe que o próximo sábado é letivo, né?! Como sexta-feira é feriado, Paixão de Cristo, quando a maioria dos professores viajará, então a “Parada Pedagógica” já ficou agendada para o primeeeeeeeiro de abril!

          — Ah, não! Melhor foi a minha de ontem no noturno! Como você sabe, já estava instalada uma pequena desavença entre a diretora e todos os demais professores, uma espécie de resistência à substituição do bom diretor que nós tínhamos. Mas, para completar, sabe aquele tal professor técnico de apoio para disciplina de Língua Portuguesa, lá da Secretaria de Educação? Você conhece a peça! Pois é, dessa vez, ele trouxe uma advertência à gestora, dizendo que depois de três meses de aulas, ainda, tinha uma professora ali que não a conhecia. Como a diretora fazia-se de inocente, negando-se a acreditar; o clima estava ficando morno, prontifiquei-me de imediato a chamar a tal professora para esquentar mais ainda, afinal sou a coordenadora. Não é nem por que não goste dela, mas é que eu não gosto mesmo é dele, porém, antes então, adiantei algumas coisinhas para Rosetear a professora em questão. Quando chegamos, ela já entrou na diretoria possuída pelo Demônio, disse tudo como se desferisse uma rajada de metralhadora. A diretora coitada, amoral, só concordava com os negativos e positivos, não ficou um naquele local sem que não fosse atingido pelos espinhos Letíficos de quem não temia consequência alguma. Você não imagina como ficou o representante da Secretaria de Educação. Senti pena; ele nem sequer levantou a cabeça, estava arrasado, mesmo que quisesse retrucar alguma coisa, não houve jeito, a protagonista não queria ouvir mais nada. Saiu de supetão, assim como entrou, largando todos nós na sala em uma atmosfera de pós-guerra, só destruição. Achei muito bom! Maravilhoso! Esse tipo de pessoa, que se acha melhor que a gente, só porque trabalha na Secretaria e, por isso, quer nos enfiar tudo de “goela a baixo”, merece o pior! Olha, ela fez o que eu sempre quis, porém nunca tive coragem, ou melhor, oportunidade. Agora estou, como se diz, "de alma lavada".

          Lamentei por estar ali, aquele era o local errado e o momento errado. Mas onde seria certo? As coordenadoras queriam-me como público ou, talvez, como uvas no lagar, esmagando-me indiretamente, mas a escola é um lugar público e político, portanto democrático. E em nome dessa democracia, digo que por sermos apenas colegas é que não guardei seus segredos.

Encaminhamento de percepção

 1-Na primeira locução, que atitude foi mais ética: da diretora que determinou o castigo para os alunos com a sexta aula, ou da professora coordenadora que se recusou ir para a sala de aula, ou do professor que não impôs autoridade sobre a turma, cumprindo a ordem da direção? Justifique.
 2-Todo bom profissional defende sua categoria, mesmo considerando algumas falhas. Nesse sentido, o que está incoerente no texto?
 3-Se você estivesse no lugar do narrador personagem, que atitude tomaria como bom profissional? Por quê?
 4-Que lições de ética podemos aprender com esses personagens? Comente.
 5- Existe uma distinção no texto entre profissionais “apenas colegas” e profissionais "amigos". Até que ponto devemos ser leais a este ou aquele que trabalha conosco?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/07/2009
Código do texto: T1688191

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O SISTEMA DA MARIA (Se a Maria não vai com as outras, o sistema não anda)










O SISTEMA DA MARIA (Se a Maria não vai com as outras, o sistema não anda)

por Claudeci Ferreira de Andrade
  
Conhecemos a palavra grega Paidagwgos da qual veio, em transliteração aceitável, a nossa palavra Pedagogo. Essa no original é formada por duas outras palavras pais (Criança) e agwgos (Conducente). No sentido etimológico dessa palavra, o antigo pedagogo era um escravo incumbido de conduzir as crianças à escola.

  Não faz muito tempo assim, surgiu o novo papel do pedagogo: aquela pessoa da equipe escolar que responde pela operacionalização da proposta pedagógica da escola, pelo acompanhamento e orientação do trabalho desenvolvido pelos professores, pela qualidade do processo de ensino e pelo sucesso da aprendizagem dos alunos. Mas, a Maria prefere não ir com as outras. Ela é efetiva e com Licenciatura em Pedagogia; prefere orientar os seus professores de Matemática, Línguas e Ciências Biológicas por velhas metodologias. Ela tem experiência de muitos anos no magistério e prefere não se atualizar. Maria é reconhecida na comunidade escolar como uma profissional comprometida com o sucesso da escola, mas prefere emperrar os projetos, substituindo-os pela improvisação. Ela tem liderança expressa na capacidade de interagir com os vários segmentos da escola, mas prefere se valer disso para articular fofocas, mediante um processo marcado pela desconfiança. Ela revela capacidade de motivar os outros profissionais da escola, de modo a formar neles o gosto pelo estudo, pela troca de experiência e pela discussão coletiva, mas prefere lhes entregar os velhos livros didáticos e dizer: — se vire. Maria é autoconfiante, mas prefere demonstrar vaidade, presunção e arrogância. Ela tem domínio do conhecimento pedagógico e dos processos de investigação que possibilitam o aperfeiçoamento da aprendizagem, mas prefere não se envolver com cursos de capacitação e novas tecnologias. A última que ela aprontou, contou-me a própria professora da Educação de Jovens e Adultos, para a disciplina de ciências. — Proibiu-nos de passar qualquer filme para nossos alunos, pois “ela já não aguentava mais enrolação”; então usou seu respaldo profissional e tomou essa decisão. Só porque eu havia passado “O auto da Compadecida”, e um aluno pediu para sair, pois precisava chegar em casa mais cedo, ela interpretou isso como motivador de evasão, e eu: professora do ócio. O que você acha?

  Bem, o que eu acho é muito particular, mas penso que este é um caso de crise de identidade profissional, de fácil resolução. O tempo encarregar-se-á disso, assim como um adolescente torna-se adulto automaticamente. Porque a Maria também é do Sistema.

Encaminhamento de percepção

 1-Ao perfilar a coordenadora pedagógica Maria que atributos consideraria ideais?
 2-Em que circunstâncias, usar o vídeo em sala de aula pode prejudicar a aprendizagem?
 3-Que motivos teria um coordenador pedagógico para agir dessa forma?
 4-Cursos de capacitação e aperfeiçoamento em novas tecnologias possibilitam a qualidade do ensino? Por que Maria não se submetia a isso?
 5-A busca de identidade por um adolescente o leva a muitas aventuras, com essa analogia o narrador pretende uma escola aventureira? Em que sentido?
 6-A Maria é do sistema, ou é o sistema da Maria, ou a Maria é o próprio sistema?
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/07/2009
Código do texto: T1686437


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BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.” Bertolt Brecht)
























BONÉ ANALFABETO (“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.” )

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã ensolarada de fevereiro quando cruzei os portões da Escola Municipal Monteiro Lobato pela primeira vez. O ar estava carregado com o cheiro de giz e expectativas, típico do primeiro dia de aula. Enquanto caminhava pelos corredores em direção à sala dos professores, minha mente vagava entre memórias de outras escolas e a curiosidade sobre o que me aguardava neste novo capítulo.

Ao entrar na sala, fui recebido por um burburinho animado. Meus novos colegas estavam reunidos em torno da diretora, Dona Marta, uma senhora de óculos de tartaruga e ar severo. Aproximei-me silenciosamente, captando fragmentos da conversa sobre as normas para o bom andamento dos trabalhos daquele ano.

"...e lembrem-se, o uso de bonés está terminantemente proibido nas dependências da escola", declarou Dona Marta, seu tom não deixando margem para discussão.

Senti um nó se formar em minha garganta. Aquela regra, aparentemente inofensiva, trouxe à tona uma lembrança que eu havia guardado no fundo de minha mente. A história de Luzito, um aluno do sexto ano da minha última escola, começou a se desenrolar diante de meus olhos como um filme.

Luzito era um garoto franzino, de olhos vivos e sorriso fácil. Seu boné inseparável, estampado com o emblema de seu time do coração, era como uma extensão de seu ser. No terceiro dia de aula, ele foi mandado de volta para casa com uma advertência: só poderia retornar acompanhado do pai.

No dia seguinte, presenciei uma cena que mudaria para sempre minha perspectiva sobre regras escolares. O pai de Luzito, Sr. Ignácio, um homem de mãos calejadas e olhar cansado, entrou na sala da diretora. Sua voz, rouca e emocionada, ecoou pelos corredores enquanto ele contava sua própria história.

"Eu também fui expulso da escola por causa de um boné", disse ele, com os olhos marejados. "Disseram que eu poderia esconder drogas nele, que eu usava para cochilar na aula, que provocava violência. Mas sabe o que esse boné realmente escondia? Minha insegurança, minhas espinhas, meu medo de não ser aceito."

Sr. Ignácio continuou, explicando como aquela experiência o afastou dos estudos: "Estudei só até a quinta série! Depois que acabou minha adolescência, deixei de usar aquele boné que tampava as espinhas horrorosas de minha testa, porém não pude mais estudar, tive que trabalhar para sustentar minha família."

As palavras do Sr. Ignácio reverberaram em minha mente enquanto eu observava meus novos colegas assentirem em concordância com a proibição dos bonés. Senti um conflito interno crescer. Deveria eu compartilhar a história de Luzito? Questionar uma regra que parecia tão estabelecida?

O sinal tocou, anunciando o início das aulas. Engoli em seco, optando pelo silêncio naquele momento. Mas enquanto me dirigia à minha primeira turma, fiz uma promessa silenciosa a mim mesmo: encontraria uma maneira de abordar esse assunto, de fazer a diferença, mesmo que fosse um aluno de cada vez.

Naquela noite, deitado em minha cama, refleti sobre o poder que nós, educadores, temos nas mãos. Não é apenas sobre ensinar conteúdos, mas sobre moldar vidas, quebrar ciclos, e às vezes, questionar regras que podem inadvertidamente marginalizar nossos alunos.

A história do boné de Luzito e do Sr. Ignácio me ensinou que por trás de cada regra, por mais bem-intencionada que seja, pode haver uma história não contada, uma ferida não cicatrizada. Como educadores, nossa missão vai além dos livros didáticos. Estamos aqui para construir pontes, não muros.

Hoje, reflito sobre aquele momento e sobre o quanto pequenas regras podem ter grandes impactos nas vidas dos alunos. Luzito e seu pai me ensinaram uma lição valiosa: a importância de questionar e, às vezes, desafiar normas que podem parecer arbitrárias. Afinal, a educação deve ser um caminho de crescimento e compreensão, não de barreiras e limitações.

E assim, com o coração cheio de determinação e a mente repleta de ideias, adormeci, sonhando com um futuro onde cada aluno, com ou sem boné, se sentiria verdadeiramente acolhido e compreendido em nossas salas de aula. Que me desculpem os intrépidos, mas às vezes, é preciso coragem para desafiar o status quo em nome de algo maior – a verdadeira compreensão e empatia.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1-Comente a velha proibição ao uso de boné nas dependências da escola. Que influência tem essa medida no processo ensino/aprendizagem?

2-Como professor, você não se oporia às normas infundadas de sua escola em nome de sua reputação?

3-Que contribuição os pais prestariam à escola se adotassem o comportamento do pai Ignácio?

4-Até que ponto a escola tem culpa no alto índice de evasão escolar?

5-Segundo o senhor Ignácio, a proibição arbitrária do uso do boné

na escola foi uma violência praticada a ele. Que outros tipos de violência a escola está praticando aos seus alunos sem perceber?

6-Você já vivenciou algum fato em que o uso do boné atrapalhou o bom andamento escolar?

7-Faça uma ilustração para crônica que acabou de ler.

8-Relacione com o texto o pensamento de Bertold Brechet: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento/ Mas ninguém diz violentas/ As margens que o comprimem.”

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