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MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 10 de março de 2025

Quando o Educador Falha ("A educação nunca é inocente." - George Orwell)

 

Quando o Educador Falha ("A educação nunca é inocente." - George Orwell)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A tragédia de Evaëlle ecoa como um grito que atravessa a alma de qualquer educador. Não se trata apenas de um caso isolado, mas de um reflexo de algo mais profundo: a sociedade que cria suas próprias vítimas e, muitas vezes, não consegue lidar com as consequências de suas construções. Uma sombra paira sobre todos os envolvidos no processo de ensino, desde o aluno que se vê excluído até o professor que, por mais que busque a didática, pode, inadvertidamente, tornar-se um algoz.

Tudo começou em 2019, quando Evaëlle, aos 15 anos, decidiu pôr fim à sua dor. Encontrada sem vida por seu pai em sua casa em Herblay, nos arredores de Paris, sua partida abalou a todos que a cercavam. A busca por explicações, dúvidas e causas logo tomou forma. O olhar recaiu sobre o ambiente escolar, afinal, quem melhor do que a escola, um espaço que deveria ser de acolhimento e aprendizado, poderia ser responsável por minar a confiança de uma jovem a ponto de fazê-la desistir de viver?

O tribunal, que começou a julgar o caso nesta segunda-feira, trouxe à tona o nome da professora envolvida: uma mulher de 62 anos que, como muitos, viu sua rotina escolar marcada pelo peso das responsabilidades da profissão. No entanto, como muitos, ela também cometeu erros, talvez imperceptíveis, talvez fatais. Acusada de "assédio escolar", ela agora enfrenta o julgamento de sua ética e de suas ações em um contexto onde a linha entre o educativo e o cruel se tornou perigosamente tênue.

Evaëlle, segundo relatos, tornou-se alvo de uma série de humilhações que destruíram seu espírito. Como se o bullying fosse uma prática normal, a professora teria pedido aos alunos que comentassem o que os incomodava em Evaëlle, na frente de toda a turma, expondo-a ao riso e ao desdém. Evaëlle, vulnerável e fragilizada, começou a chorar. E, ao invés de acolhimento, recebeu insensibilidade. A professora, irritada, insistiu para que a aluna falasse, como se a dor da jovem fosse um obstáculo a ser vencido para restabelecer a ordem na sala. Essa, talvez, tenha sido a gota d'água em um mar de sofrimento.

A frase da advogada da família de Evaëlle ecoa: "A escola serve para ensinar, proteger, criar cidadãos em um ambiente de calma e harmonia". A escola é um templo de transformação, onde cada palavra e ação pode moldar ou despedaçar. A linha entre educador e opressor, por vezes invisível, existe, e quem ensina não pode esquecer sua responsabilidade humana.

Hoje, a professora, antes no lugar da sabedoria e do cuidado, está na posição oposta. Sua imagem, antes respeitada, se dissolve diante do tribunal, e o peso da acusação se torna maior que as notas que corrigiu. Não é apenas o peso das palavras, mas o da indiferença, da falta de empatia e da insensibilidade.

O que aprendemos com a queda de Evaëlle e o julgamento da professora? A maior lição é a de que o olhar atento é fundamental. Cada aluno, com sua complexidade emocional, deve ser visto como um ser inteiro, não apenas um corpo na sala de aula. A educação, antes de saberes, é construção de dignidade, autoestima e respeito. A missão do educador é formar seres humanos completos e respeitosos.

O julgamento da professora é um reflexo de todos nós, de uma sociedade que negligencia a dor dos mais frágeis e esquece que somos responsáveis pelo sofrimento que causamos, por ação ou omissão.


https://extra.globo.com/mundo/noticia/2025/03/professora-e-julgada-por-assedio-escolar-apos-suicidio-de-aluna-na-franca.ghtml (Acessado em 10/03/2025)


Aqui estão 5 questões discursivas baseadas no texto, explorando as ideias principais e provocando reflexões sociológicas:


1. A escola como reflexo da sociedade: O texto afirma que a tragédia de Evaëlle é um reflexo de uma sociedade que "cria suas próprias vítimas". Como a sociologia pode analisar a relação entre a escola e a sociedade, e de que forma as desigualdades e violências sociais se manifestam no ambiente escolar?

2. O papel do professor na prevenção do bullying: O texto destaca a responsabilidade do professor em criar um ambiente de "calma e harmonia" e em evitar que o bullying se manifeste. Como a sociologia pode analisar o papel do professor na prevenção do bullying, considerando as dimensões pedagógicas, éticas e emocionais do trabalho docente?

3. A construção social da vítima e do algoz: O texto menciona que o professor pode, "inadvertidamente, tornar-se um algoz". Como a sociologia pode analisar a construção social das identidades de vítima e algoz no contexto escolar, e de que forma os discursos e práticas pedagógicas podem contribuir para essa construção?

4. A importância da empatia e do cuidado na educação: O texto ressalta a necessidade de um "olhar atento" para as complexidades emocionais dos alunos e a importância da empatia e do cuidado na educação. Como a sociologia pode analisar o papel das emoções na educação e de que forma as práticas pedagógicas podem promover a empatia e o cuidado entre os alunos?

5. A responsabilidade coletiva na prevenção do bullying: O texto conclui que o julgamento da professora é um reflexo de uma sociedade que "negligencia a dor dos mais frágeis". Como a sociologia pode analisar a responsabilidade coletiva na prevenção do bullying, considerando o papel da escola, da família, da comunidade e das políticas públicas?

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