COM ARBÍTRIO OU SEM ARBÍTRIO ("De que vale o livre-arbítrio se somos forçados a ser igual." (Samara Cirino)
             Eu queria ter, de fato, o tal livre-arbítrio que a igreja insiste em me vender, como se fosse um presente divino. Dizem que posso escolher o caminho, mas não vejo trilhas paralelas nem bifurcações. A estrada é única, e nela caminhamos na mesma direção. O bem e o mal não se opõem em rotas separadas; eles se intercalam, como as listras de uma zebra que fazem sombras e claridades no caminho. O ponto final pode chegar a qualquer momento. Uns encerram a jornada no branco, outros, no preto: céu ou inferno. A vida, afinal, é como uma roleta: ninguém escolhe nem o início, nem o fim. O dono da banca roda, e o destino decide onde a sorte vai parar.
             Essa via única é cruel, mas também instrutiva. Nela, ninguém caminha apenas na claridade ou somente nas trevas. Todos atravessam zonas mistas, uma tessitura irregular que ora se ilumina, ora se apaga. A igreja, mesmo que minta ao me oferecer um livre-arbítrio ilusório, entrega símbolos que ajudam a decifrar essa jornada, ainda que o custo seja alto. Mas os novos inquisidores repetem a mesma soberba do púlpito, impondo-me bandeiras que não escolhi.
            E, no entanto, querem me arrastar para as disputas da ideologia de gênero. Pergunto-me por que precisam me rotular como racista, homofóbico ou discriminador, apoiados apenas em seus próprios referenciais. Argumentos sociais da moda tentam me seduzir, e temo não agradá-los. Forçam-me a negar a mim mesmo, sob acusações contraditórias: se sou "velho pra frente", desejam que eu seja também gagá, embalado pelos ventos de suas impressões.
           Sem ter para onde correr, resta-me aceitar, a contragosto, suas facções esquerdistas para conviver em paz. Eles se tornaram maioria quando se uniram, esmagando os princípios que eu guardava. Rendo-me, por vezes, como Caetano Veloso: "Já fui mulher eu sei", e também ouço, em eco, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Entre um verso e outro, tento inventar um sulco próprio, que não se curve nem ao determinismo religioso, nem à coerção progressista. Meu objetivo é caminhar com lucidez, resistindo às roletas que giram por mim, mas sem renunciar à estrada que, embora coletiva, ainda me pertence.
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O texto que acabamos de ler é uma reflexão pessoal e crítica sobre liberdade, determinismo e as pressões sociais que enfrentamos. Ele nos convida a pensar sobre como as instituições — sejam elas religiosas ou políticas — moldam nossas escolhas e a nossa própria identidade. Como sociólogos em formação, é nosso papel analisar essas ideias de forma crítica, identificando os conceitos e as tensões que o autor apresenta. Vamos às questões:
1 - O autor questiona a ideia de livre-arbítrio e sugere que a vida é uma "via única". Analise essa metáfora à luz da sociologia do determinismo social. Em que medida o nosso percurso de vida é realmente livre ou é moldado por forças sociais que não controlamos?
2 - A crônica contrapõe o determinismo religioso à coerção progressista. Explique, com base no texto, como o autor se sente pressionado por esses dois lados. Quais são os "novos inquisidores" e as "bandeiras" que o forçam a tomar posições que ele não escolheu?
3 - O texto aborda a dificuldade de ser rotulado com base em "referenciais" de "argumentos sociais da moda". Discuta como os rótulos sociais (como racista, homofóbico, etc.) funcionam como uma forma de controle social e como eles podem ser usados para "esmagar os princípios" de um indivíduo.
4 - A frase "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" é citada no texto. Utilizando-a como ponto de partida, analise a tensão entre a identidade individual e as identidades coletivas. Como o autor tenta "inventar um sulco próprio" em meio a essas pressões?
5 - O autor expressa seu sentimento de ter que "aceitar, a contragosto, suas facções esquerdistas para conviver em paz". Essa resignação pode ser vista como uma forma de conformismo social. Explique como o conformismo pode ser uma estratégia para o indivíduo lidar com a pressão de grupos que se tornaram "maioria".
Eu queria ter, de fato, o tal livre-arbítrio que a igreja insiste em me vender, como se fosse um presente divino. Dizem que posso escolher o caminho, mas não vejo trilhas paralelas nem bifurcações. A estrada é única, e nela caminhamos na mesma direção. O bem e o mal não se opõem em rotas separadas; eles se intercalam, como as listras de uma zebra que fazem sombras e claridades no caminho. O ponto final pode chegar a qualquer momento. Uns encerram a jornada no branco, outros, no preto: céu ou inferno. A vida, afinal, é como uma roleta: ninguém escolhe nem o início, nem o fim. O dono da banca roda, e o destino decide onde a sorte vai parar.
Essa via única é cruel, mas também instrutiva. Nela, ninguém caminha apenas na claridade ou somente nas trevas. Todos atravessam zonas mistas, uma tessitura irregular que ora se ilumina, ora se apaga. A igreja, mesmo que minta ao me oferecer um livre-arbítrio ilusório, entrega símbolos que ajudam a decifrar essa jornada, ainda que o custo seja alto. Mas os novos inquisidores repetem a mesma soberba do púlpito, impondo-me bandeiras que não escolhi.
E, no entanto, querem me arrastar para as disputas da ideologia de gênero. Pergunto-me por que precisam me rotular como racista, homofóbico ou discriminador, apoiados apenas em seus próprios referenciais. Argumentos sociais da moda tentam me seduzir, e temo não agradá-los. Forçam-me a negar a mim mesmo, sob acusações contraditórias: se sou "velho pra frente", desejam que eu seja também gagá, embalado pelos ventos de suas impressões.
Sem ter para onde correr, resta-me aceitar, a contragosto, suas facções esquerdistas para conviver em paz. Eles se tornaram maioria quando se uniram, esmagando os princípios que eu guardava. Rendo-me, por vezes, como Caetano Veloso: "Já fui mulher eu sei", e também ouço, em eco, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Entre um verso e outro, tento inventar um sulco próprio, que não se curve nem ao determinismo religioso, nem à coerção progressista. Meu objetivo é caminhar com lucidez, resistindo às roletas que giram por mim, mas sem renunciar à estrada que, embora coletiva, ainda me pertence.
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O texto que acabamos de ler é uma reflexão pessoal e crítica sobre liberdade, determinismo e as pressões sociais que enfrentamos. Ele nos convida a pensar sobre como as instituições — sejam elas religiosas ou políticas — moldam nossas escolhas e a nossa própria identidade. Como sociólogos em formação, é nosso papel analisar essas ideias de forma crítica, identificando os conceitos e as tensões que o autor apresenta. Vamos às questões:
1 - O autor questiona a ideia de livre-arbítrio e sugere que a vida é uma "via única". Analise essa metáfora à luz da sociologia do determinismo social. Em que medida o nosso percurso de vida é realmente livre ou é moldado por forças sociais que não controlamos?
2 - A crônica contrapõe o determinismo religioso à coerção progressista. Explique, com base no texto, como o autor se sente pressionado por esses dois lados. Quais são os "novos inquisidores" e as "bandeiras" que o forçam a tomar posições que ele não escolheu?
3 - O texto aborda a dificuldade de ser rotulado com base em "referenciais" de "argumentos sociais da moda". Discuta como os rótulos sociais (como racista, homofóbico, etc.) funcionam como uma forma de controle social e como eles podem ser usados para "esmagar os princípios" de um indivíduo.
4 - A frase "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" é citada no texto. Utilizando-a como ponto de partida, analise a tensão entre a identidade individual e as identidades coletivas. Como o autor tenta "inventar um sulco próprio" em meio a essas pressões?
5 - O autor expressa seu sentimento de ter que "aceitar, a contragosto, suas facções esquerdistas para conviver em paz". Essa resignação pode ser vista como uma forma de conformismo social. Explique como o conformismo pode ser uma estratégia para o indivíduo lidar com a pressão de grupos que se tornaram "maioria".
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