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MINHAS PÉROLAS

terça-feira, 13 de setembro de 2022

ALUNO NÃO É DISCÍPULO, PROFESSOR NÃO É MESTRE ("Miserável coisa é pensar ser mestre, quem nunca soube ser discípulo." — F. de Rosas)

 


ALUNO NÃO É DISCÍPULO, PROFESSOR NÃO É MESTRE ("Miserável coisa é pensar ser mestre, quem nunca soube ser discípulo." — F. de Rosas)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

"Mestre que não é amado pelos seus discípulos é um mau mestre." Ao me deparar com essa frase de Paolo Mantegazza, um sentimento de desespero tomou conta de mim. Será que a culpa pelo descaso que sofro nas escolas, e pela falta de respeito que percebo em minhas aulas, é inteiramente minha? A lembrança de um episódio com uma aluna do primeiro ano do Ensino Médio ressurgiu com força.

Eu a repreendi por me entregar um caderno com as atividades copiadas da colega, valendo nota. Questionada sobre como tinha todas as atividades, sendo que passava a aula inteira conversando, ela respondeu com uma franqueza brutal: "Não me interesso em suas aulas, porque não concordo com nada que você fala." Naquele instante, a frase "quem fala o que quer escuta o que não quer" ecoou em minha mente. Percebi que eu poderia ter me calado para dormir em paz naquela noite, mas a verdade havia sido dita, e o impacto foi avassalador.

Após um período de agonia e inquietação, encontrei algum conforto ao reconsiderar os papéis: eu tenho alunos, não discípulos. Essa nova perspectiva trouxe um alívio imediato, pois percebi que meus conceitos estavam equivocados. Aluno não é discípulo, e professor não é mestre. Com essa distinção, o peso da frase de Mantegazza se dissipou.

No entanto, o alívio não durou. Se meu papel não é o de guiar seguidores, mas o de abrir caminhos para caminhantes livres, novas contradições surgem. Paulo Freire dizia que "ninguém ensina ninguém, as pessoas aprendem". Mas o que fazer quando a resistência dos alunos não é um sinal de aprendizado libertador, e sim de uma tentativa de domesticar o professor? O sucesso parece estar reservado a quem diz o que os alunos querem ouvir, e não o que eles precisam ouvir.

Afinal, por que ainda existem a escola e a educação formal? Em meio a esse conflito, as palavras de Mantegazza e Confúcio se misturam. O amor e a proximidade não são títulos, mas sim resultado de um encontro real, algo que a escola parece não mais favorecer. Segundo Confúcio, "Por natureza, os homens são próximos; a educação é que os afasta."

Essa mudança de perspectiva não suaviza a dor, mas me impõe um novo desafio. Como posso ser um educador sem ser domesticado ou domesticador? A resposta talvez esteja em aceitar que, como professor, meu papel é o de um guia que mostra caminhos, sem ter a obrigação de ser seguido. É preciso encontrar a serenidade para lidar com a dor de não ser um mestre amado, e focar em ser um educador que inspira a jornada de seus alunos.


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Como um professor de sociologia do Ensino Médio, preparei cinco questões discursivas e simples para explorar as ideias do texto que compartilhei. O objetivo é que estas perguntas estimulem a reflexão e a discussão sobre os desafios da educação contemporânea e as diferentes perspectivas sobre o papel do professor e do aluno.


1 - Com base na frase de Paolo Mantegazza, "Mestre que não é amado pelos seus discípulos é um mau mestre," discuta a diferença entre ser um "mestre" e ser um "professor" no contexto da educação atual.

2 - De que maneira a experiência do autor com a aluna do Ensino Médio ilustra a contradição entre as ideias de Paulo Freire sobre o aprendizado libertador e a realidade escolar descrita no texto?

3 - O texto questiona a razão da existência da escola e da educação formal na sociedade de hoje. Utilize a frase de Confúcio, "Por natureza, os homens são próximos; a educação é que os afasta," para argumentar a favor ou contra a importância da educação formal.

4 - O autor menciona que "o sucesso parece estar reservado a quem diz o que os alunos querem ouvir, e não o que eles precisam ouvir." Analise essa afirmação, citando exemplos de como essa dinâmica pode afetar o processo de ensino e aprendizado.

5 - Refletindo sobre a dor do autor e o desafio de ser "um educador sem ser domesticado ou domesticador," proponha uma ou duas práticas que, em sua opinião, poderiam ajudar os professores a se conectar melhor com os alunos e a inspirá-los na jornada de aprendizado.

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