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MINHAS PÉROLAS

No campo educacional público, o menor determina o maior. Quando a tutora chega à escola, a rotina muda: o horário se estende, o lanche cheira melhor; fala-se mais baixo; papéis se lhe distribuem; bandeirolas se agitam; alunos também fingem. E não se fala outra coisa: O pessoal da Secretaria está aí. "Quem não deve não teme".
Claudeci Ferreira de Andrade

quinta-feira, 8 de junho de 2023

A ARMADILHA DESTRUIDORA DE HONRA ("Não respondas ao insensato com semelhante insensatez, para não te igualares a ele." — Prov. 26:4)

 

A ARMADILHA DESTRUIDORA DE HONRA ("Não respondas ao insensato com semelhante insensatez, para não te igualares a ele." — Prov. 26:4)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em uma manhã qualquer do período imediatamente pós-pandemia, quando as escolas voltavam a pulsar com vida, experimentei na pele como a tecnologia pode se transformar em uma arma nas mãos erradas. Eu, professor há mais de quatro décadas, descobri que nem todos os anos de experiência são suficientes para nos proteger das armadilhas do mundo digital.

O sino havia acabado de anunciar o fim da aula, quando duas alunas do segundo ano do Ensino Médio se aproximaram de minha mesa. Aos 65 anos, já deveria ter desenvolvido um sexto sentido para identificar situações suspeitas, mas confesso que a idade, às vezes, nos torna mais vulneráveis à falsa cordialidade dos jovens erotizados pelas mídias.

A pergunta veio certeira como uma flecha envenenada: — "Professor, há quanto tempo o senhor não 'pega' uma mulher?" Senti o peso da provocação, a malícia disfarçada de curiosidade juvenil. Em um momento de insensatez, tentei reverter a situação com uma resposta que misturava ironia e defesa: falei sobre encontros semanais com profissionais do prazer, como quem tenta desmontar uma bomba com as ferramentas erradas.

O que não percebi, naquele instante de vulnerabilidade, era o celular estrategicamente posicionado, registrando cada palavra minha. Em questão de horas, minha resposta infeliz circulava pelos corredores virtuais da escola, transformando-se em mais um episódio desse reality show não autorizado em que se transformou a educação.

A notícia da gravação chegou até mim através de um desses alunos que gravitam em torno da sala dos professores, sempre ávidos por moedas de troca no mercado das notas e favores. O representante de turma, pressionado entre a lealdade aos colegas e o respeito à instituição, manteve-se em um limbo diplomático.

Mas, onde foram parar aqueles estudantes genuinamente interessados no conhecimento? Aqueles que faziam perguntas relevantes sobre literatura, história ou ciências? Parecem espécies em extinção, substituídos por uma geração que transformou o celular em uma arma e a exposição alheia em entretenimento.

A pandemia não apenas escancarou as desigualdades sociais e as fragilidades do nosso sistema educacional, mas também acelerou uma transformação nas relações humanas dentro da escola. O respeito, valor fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, parece ter sido "quarentenado" indefinidamente.

Como diz o velho ditado: "Os espinhos que me feriram foram produzidos pelo arbusto que plantei." Talvez minha maior lição naquele dia não tenha sido sobre como evitar armadilhas digitais, mas sobre como preservar a dignidade em um mundo onde o respeito parece ter se tornado obsoleto.

Que esta experiência sirva não apenas como um desabafo de um professor sexagenário, mas como um alerta sobre o rumo que estamos tomando. A tecnologia deveria ser uma aliada da educação, não uma ferramenta de humilhação. O futuro da educação depende não apenas de nossa capacidade de adaptação às novas tecnologias, mas principalmente de nossa habilidade em preservar valores fundamentais como respeito, empatia e dignidade.


1. Como a pandemia influenciou as relações humanas no ambiente escolar e quais foram suas consequências para o processo de ensino-aprendizagem?

2. De que forma o uso inadequado da tecnologia pode afetar as relações de poder e respeito dentro do ambiente escolar?

3. Qual é a relação entre o comportamento dos alunos descritos no texto e as transformações sociais provocadas pela cultura digital?

4. Como o texto retrata a mudança no perfil dos estudantes em relação ao interesse pelo conhecimento e quais são suas possíveis causas?

5. Analise criticamente como o conflito geracional entre professor e alunos se manifesta no texto e suas implicações para o ambiente educacional contemporâneo.

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