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MINHAS PÉROLAS

domingo, 16 de outubro de 2022

CASAMENTO: A Ruína da Posse e o Novo Afeto ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci) ... Por que em cada esquina tem uma serpente oferecendo o fruto proíbido?

 


CASAMENTO: A Ruína da Posse e o Novo Afeto ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci) ... Por que em cada esquina tem uma serpente oferecendo o fruto proíbido?

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A dispensação do casamento tradicional caducou. Hoje, a união se tornou tão paradoxalmente sacralizada que transforma os cônjuges em figuras intimidantes e exclusivistas. A amizade com pessoas casadas torna-se delicada; aproximações exigem cautela e sensibilidade.

Não se sabe do que é capaz um esposo que se vê como “dono” de sua mulher. Ele pode chegar ao extremo do suicídio por um motivo ínfimo, pois qualquer ameaça à sua “cidadela” o coloca em estado de ataque — mesmo contra um adversário mais forte. Essa incentivo nasce de uma sociedade machista que ainda exige do homem a responsabilidade absoluta de proteger sua família, mesmo quando lhe faltam preparo emocional e ferramentas para tanto.

A mentalidade de posse é um terreno fértil para tragédias. A lealdade das amizades, quando envolvida nesse contexto, torna-se frágil: a ameaça nunca é a infidelidade em si, mas a ruptura da ilusão de controle. Quando essa idealização se quebra, todos sofrem. O ressentimento transborda de formas destrutivas.

Quando ocorre a separação, o impulso é encontrar culpados externos — familiares, amigos, conhecidos — em vez de assumir a falência da própria relação. E quando o amante demonstra mais força, o homem traído avança para a morte em nome do ciúme: tolice pura. A traição nunca é obra de um só; é o resultado do entrelaçamento e da responsabilidade de todos os envolvidos. O machismo é tão devastador que nem a mulher mais autoconsciente toleraria a servidão que lhe é imposta como ideal de esposa. No entanto, o maior motivo da separação disfarça-se sob a alcunha de 'incompatibilidade', que, analisada friamente, resume-se quase inteiramente à falta de sexo e, em parte crucial, à questão financeira.

Por outro lado, exibir-se pela moda ou pelo consumo é uma forma moderna de se negociar o próprio valor. Ser possuída pela moda é uma rebeldia contra a antiga submissão gratuita, é isto o que provoca furor no parceiro que ainda acredita ser ele o dono da mulher. Se ela possui renda própria e autonomia, e ele não pode conter essa liberdade, sente-se derrotado: Pois acha que cuida dela para que outros desfrutem.

Certa vez, um amigo experiente confidenciou-me, nesse contexto: “É melhor ser consumidor que fornecedor.” Não compreendi na hora. Hoje, entendo o peso da expressão: “Onde come um, come dois”, e a conta — com gorjeta e tudo — recai sobre apenas um.

A moral é simples: a paz reside no investimento correto. E esse investimento não é posse, domínio ou vigilância — mas o cultivo de vínculos baseados em equidade, respeito e afeto genuíno.


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📝 Questões Discursivas

1. A Ideologia da "Cidadela" e o Machismo

O autor afirma que a sociedade machista exige do homem a responsabilidade de proteger sua família (sua "cidadela"), mesmo que ele esteja "desarmado de ferramentas emocionais". Do ponto de vista da Sociologia de Gênero, explique como essa imposição social ao papel masculino de "protetor/dono" contribui para a fragilidade emocional e para a violência nos relacionamentos conjugais, conforme descrito no texto.

2. O Casamento como Contrato Social em Crise

O texto argumenta que a "dispensação do casamento tradicional caducou" e que a união se tornou "paradoxalmente sacralizada", gerando figuras intimidantes. Discuta a contradição sociológica apresentada: como a rigidez institucional do casamento (sua sacralização) pode, ironicamente, levar à sua fragilidade real e à desconfiança nas relações interpessoais (amizade com casados)?

3. Consumo, Moda e Rebeldia Feminina

O autor descreve que "exibir-se pela moda ou pelo consumo" é uma "rebeldia contra a antiga submissão gratuita", provocando a ira do parceiro. Analise essa observação utilizando a Sociologia do Consumo. De que forma a autonomia financeira e o consumo individual por parte da mulher se tornaram ferramentas de negociação de poder e resistência contra o domínio masculino na sociedade contemporânea?

4. Incompatibilidade: Um Disfarce para Fatores Estruturais

O texto conclui que a tão citada "incompatibilidade" que leva à separação resume-se, na prática, à falta de sexo e à questão financeira. Explique por que, do ponto de vista sociológico, é mais fácil para um casal alegar "incompatibilidade" (um problema subjetivo) do que admitir publicamente a falência de aspectos estruturais como a intimidade sexual ou o desalinhamento financeiro.

5. A Filosofia do "Investimento Correto"

A crônica finaliza com a moral de que "a paz reside no investimento correto", que é o cultivo de vínculos baseados em equidade, respeito e afeto genuíno. Em contraste com a mentalidade de "posse, domínio ou vigilância", explique como essa conclusão filosófica se alinha à busca por modelos de relacionamento mais democráticos e horizontais na sociedade atual.

Questão,Ponto Central da Resposta,Conceitos Sociológicos Chave

"1. A Ideologia da ""Cidadela"" e o Machismo","A imposição do papel de ""protetor"" e ""dono"" restringe o homem ao código da honra e da força bruta, impedindo-o de desenvolver a inteligência emocional (as ""ferramentas emocionais""). Isso torna a frustração e a perda de controle (ameaça à ""cidadela"") destrutivas, podendo levar a atos extremos (violência, suicídio).",Ideologia de Gênero; Papéis de Gênero; Masculinidade Tóxica; Estruturas Patriarcais.

2. O Casamento como Contrato Social em Crise,"O paradoxo é que a tentativa de manter o casamento como uma instituição sagrada, rígida e exclusiva (intimidante), nega a fluidez e a realidade das relações humanas. Isso gera uma pressão social insustentável que, quando falha, leva ao isolamento dos cônjuges e à desconfiança, contrariando a própria função de união social da instituição.",Instituição Social; Crise da Família Nuclear; Sacralização; Contrato Social.

"3. Consumo, Moda e Rebeldia Feminina","O consumo, facilitado pela autonomia financeira da mulher, é transformado em um ato de agência e rebeldia. Ao gastar ou exibir-se, a mulher reivindica sua individualidade e nega a ""submissão gratuita"" (ser posse sem custo ao marido). O consumo se torna um símbolo de poder e liberdade, desafiando a estrutura de posse masculina.",Sociologia do Consumo; Agência Feminina; Poder e Status; Autonomia Econômica.

4. Incompatibilidade: Um Disfarce para Fatores Estruturais,"É mais fácil alegar ""incompatibilidade"" porque é uma justificativa vaga e socialmente aceitável, protegendo a privacidade. Admitir publicamente a falta de sexo (tabu social/moral) ou crises financeiras (falha percebida na provisão) expõe o casal a um julgamento mais severo. A incompatibilidade serve como um ""véu"" para problemas estruturais e íntimos.",Desvio Social; Tabu; Estruturas Familiares; Falência Conjugal; Moralidade Social.

"5. A Filosofia do ""Investimento Correto""","A conclusão se alinha aos modelos de relacionamento pós-modernos, que rejeitam a hierarquia e o domínio (base do machismo). O ""investimento correto"" propõe uma troca baseada no reconhecimento mútuo (equidade) e na escolha contínua (afeto genuíno), características de um relacionamento democrático onde a permanência é voluntária e baseada no respeito, não na obrigação.",Relações Democráticas; Equidade de Gênero; Amor Líquido (Bauman); Vínculos Voluntários.

Casamento não dura mais por que em cada esquina tem uma serpente oferecendo o fruto proíbido.

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