FICA COMIGO, A MORTE NOS SEPARA: A Impermanência e a Essência do Ser ("Gostaria de ti pedir para ficar, mas isso seria insensato; pois há muito tempo não estou mais aqui." — Debora Canibal)
Compreendo agora que a vida se move por ciclos temporais: há tempo para plantar, colher, chegar e partir. Essa certeza me faz reconhecer que, embora as amizades verdadeiras resistam aos anos, nem todos que cruzam nosso caminho suportam a prova do tempo. É essencial aceitar a impermanência com serenidade, deixando ir quem deseja partir, sem apego ou rancor. Reter o que se foi é apenas atrasar o próprio florescimento; a vida é um jardim que se renova a cada estação, não um cárcere afetivo.
Diante disso, busco ser gentil e justo em meus julgamentos, independentemente do papel que cada pessoa tenha em minha história. Não espero retribuição, mas sim autenticidade. Descobri que a paz reside em um ambiente íntimo e belo, onde a harmonia estética espelha a ordem da alma. Talvez eu valorize tanto a beleza porque o mundo a usa como medida de tudo — mas, apesar disso, mantenho-me fiel à simplicidade, sem máscaras ou adornos que disfarcem o peso do tempo.
Contemplo o afastamento das pessoas como uma parte natural do ciclo, intensificando-se à medida que o fim se aproxima. Embora fosse menos doloroso morrer junto do que sobreviver separado, a vida raramente oferece esse consolo. A morte, inevitável e pontual, não é o que se deve temer, pois tem endereço certo e hora marcada. A verdadeira dor reside no distanciamento voluntário que surge da frieza, do desinteresse ou da política que rompe laços.
Por isso, peço que fiquem por perto. Não é o medo da solidão que me move, mas a convicção de que a presença — mesmo silenciosa — é o último vestígio de humanidade a resistir. No entanto, reconheço que minha própria presença já não é a mesma. Uma parte de mim ficou ancorada no passado, entre as memórias e as pessoas que amei. O que resta apenas observa, em quietude, o lento esvair daquilo que um dia chamei de “nós”.
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Abaixo estão 5 questões discursivas, simples e objetivas, formuladas para alunos do Ensino Médio, com foco nos temas sociológicos abordados em seu texto:
1. Impermanência e Relações Sociais: O texto compara a vida a um "jardim que se renova a cada estação", sugerindo que a impermanência é natural nas amizades e nos vínculos sociais. Analise, sob a ótica da Sociologia, como as mudanças na organização social moderna (como a mobilidade urbana ou o avanço das redes virtuais) contribuem para essa aceitação da impermanência e para o enfraquecimento dos laços comunitários estáveis.
2. A Busca por Autenticidade e os Papéis Sociais: O autor afirma buscar a "autenticidade" e ser "fiel à simplicidade, sem máscaras". Relacione essa busca por um "eu" verdadeiro com a teoria dramatúrgica de Erving Goffman, explicando o que são as "máscaras" (ou fachadas) nas interações sociais e por que a sociedade muitas vezes exige que as pessoas as usem.
3. Estética, Harmonia e Distinção Social: O texto nota que o mundo "julga a beleza como medida de tudo" e associa a "harmonia estética" à "ordem da alma". Em termos sociológicos (por exemplo, a partir de Pierre Bourdieu), discuta como a valorização da beleza e da estética pode funcionar como um mecanismo de distinção social, influenciando o valor e o julgamento atribuído aos indivíduos na sociedade.
4. O Distanciamento e a Política nas Relações: A "verdadeira dor" é identificada no "distanciamento voluntário que surge da frieza, do desinteresse ou da política que rompe laços". Explique como a polarização ideológica ou a fragmentação social ("política que rompe laços") podem se manifestar no nível das relações interpessoais e como isso afeta a coesão do que o autor chama de "nós" (o coletivo de pertencimento).
5. O Valor Sociológico da Presença: O autor valoriza a "presença — mesmo silenciosa —" como "o último vestígio de humanidade a resistir". Em um contexto de crescentes interações mediadas por tecnologia, qual o significado sociológico da presença física nas relações? Discorra sobre como a ausência de corporeidade e a mediação tecnológica podem fragilizar a profundidade dos vínculos sociais.
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