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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O GÊNERO FAZ A DIFERENÇA: A Crônica da Sala de Aula ("Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira para matar." — Millôr Fernandes)

 


O GÊNERO FAZ A DIFERENÇA: A Crônica da Sala de Aula ("Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira para matar." — Millôr Fernandes)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Pobre aula de Filosofia! Recordo-me de um embate que se tornou emblemático: em tom propositalmente provocador, afirmei que o dinheiro compra amor e carinho. Um aluno, tomado pela ironia e, talvez, pela inveja, respondeu na hora: “só pode, para achar alguém que fique com o senhor, tem de ser por dinheiro mesmo”. Mantive a calma e devolvi-lhe a provocação com uma pergunta afiada: “Pois é, e que razão uma mulher teria para ficar com você, se não tem dinheiro, nem beleza, nem saúde e nem inteligência?”. Completei a investida: “Só se ela for pior que você!”.

A classe silenciou, e a reflexão se impôs de imediato — mulheres inteligentes e promissoras buscam parceiros que as elevem, não que as rebaixem.

Infelizmente, confrontos como esse se tornaram corriqueiros nas salas de aula, onde o respeito e a curiosidade filosófica são substituídos pela disputa e pela militância desmedida. Nesse ambiente, muitos professores são reduzidos, no imaginário estudantil, a meros “analfabetos funcionais”, desvalorizados por alunos que transformam qualquer tema em um palco de confronto ideológico. Em vez de diálogo, há acusações; em vez de aprendizado, há ruído. É uma inversão trágica: o mestre, que deveria ser o guia da reflexão, torna-se o alvo do desprezo.

Nessas horas de frustração, identifico-me com o humorista Diego Almeida, também professor, que transforma as dores e contradições da escola em sátira teatral. Compreendo seu gesto: é o riso que grita por socorro, a arte como desabafo diante de um sistema que sufoca. Eu, por minha vez, escolhi a literatura — especialmente a crônica — como meio de narrar as experiências e agruras vividas no cotidiano docente. Somos semelhantes em propósito: ambos usamos a palavra como ferramenta de resistência e denúncia, clamando por uma educação mais humana e respeitosa.

Apesar de nossas intenções, percebo que muitos no meio "escolar" parecem guardar mais rancor de mim do que dele, embora eu jamais lhes tenha cobrado um centavo. Talvez minhas críticas, ainda que duras, sejam mal interpretadas. No fundo, como o profeta Balaão, que ao tentar amaldiçoar acabou abençoando, minhas palavras buscam provocar mudança e despertar a consciência. Se for preciso, aceito o papel da jumenta falante — aquela que, espancada por dizer a verdade, ainda assim persiste. Entre a ironia e a fé, continuo acreditando que toda crítica sincera é, em essência, uma forma de bênção disfarçada.


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Como seu professor de Sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples, alinhadas às ideias do texto, focando em conceitos sociais relevantes para o Ensino Médio.

1. O Valor do Dinheiro e as Relações Sociais

O texto inicia com a provocação "o dinheiro compra amor e carinho". Do ponto de vista sociológico, como a dimensão econômica (o dinheiro e o poder aquisitivo) pode influenciar a formação de vínculos e relações afetivas na sociedade contemporânea?

2. Desvalorização Docente e a Crise na Educação

O autor menciona que professores são frequentemente reduzidos a "analfabetos funcionais" e se tornam "alvo do desprezo" em um ambiente de "confronto ideológico". Explique, a partir da perspectiva sociológica, como a desvalorização da profissão docente e a falta de respeito em sala de aula se manifestam como um sintoma da crise institucional e de valores na educação.

3. A Meritocracia e a Escolha de Parceiros

O trecho que descreve a reflexão imposta sugere que "mulheres inteligentes e promissoras buscam parceiros que as elevem". Essa visão está relacionada a um ideal de ascensão social ou meritocracia dentro dos relacionamentos. Discorra sobre como as expectativas sociais de sucesso (beleza, saúde, inteligência, dinheiro) atuam como critérios de seleção social na busca por parceiros.

4. Conflito e Diálogo em Espaços de Aprendizado

O texto critica a substituição do diálogo pela "disputa e militância desmedida" em sala de aula, gerando "ruído" em vez de aprendizado. Qual é o papel central do diálogo e do debate respeitoso (e não do conflito ideológico) para a construção do conhecimento sociológico e para a formação de uma cidadania crítica?

5. Expressão Artística como Denúncia Social

O professor relata que utiliza a crônica e se identifica com o humorista/professor que usa a sátira para denunciar as contradições da escola. Como a arte, a literatura ou o humor podem ser entendidos como ferramentas de resistência ou denúncia social, capazes de promover reflexão e crítica sobre as instituições e o cotidiano?

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