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MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Crise, Ética e o Sentido da Escola ("Não são as crises que mudam o mundo, e sim nossa reação a elas." — Zygmunt Bauman)

 


Crise, Ética e o Sentido da Escola ("Não são as crises que mudam o mundo, e sim nossa reação a elas." — Zygmunt Bauman)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A pandemia expôs de forma contundente as fragilidades sociais e educacionais já existentes, revelando como muitos se colocam em desfavor dos mais vulneráveis e acabam colhendo, inevitavelmente, consequências duradouras. O fechamento das escolas, interpretado por alguns como sinal de que “não são essenciais”, trouxe à tona um paradoxo: estudantes pouco assíduos nas aulas tradicionais tornavam-se surpreendentemente presentes na semana do torneio interclasse. Esse contraste levanta perguntas incômodas sobre o significado que a escola assume para eles — uma instituição sem atratividade acadêmica, mas com destaque esportivo, onde os mesmos alunos desinteressados em aprender tornam-se, curiosamente, representantes oficiais nos jogos estaduais.

Dentro do ambiente escolar, persiste uma inversão de valores: quem realmente ensina, orienta e acompanha o desenvolvimento dos estudantes não recebe o devido respeito, enquanto a figura do punidor — aquele que controla, ameaça ou impõe medo — costuma ser reverenciada. No entanto, punir, quase sempre motivado por algum ressentimento, não é educar; pelo contrário, consome energia e desvia o foco do processo de ensino-aprendizagem. Pais que perderam o controle sobre seus filhos, buscando soluções externas para problemas internos, clamam por escolas militares como se a disciplina pudesse ser imposta de fora para dentro, quando, na verdade, ela nasce no lar e se sedimenta no íntimo de cada indivíduo.

Essa lógica da punição, quando assumida como método principal, aproxima o punidor de uma imagem distorcida de “deus vingador”, que corrige inimigos por critérios próprios, sem perceber que essa postura o coloca sob o mesmo círculo vicioso de retribuições. A natureza, sempre implacável e equilibradora, acaba por devolver ao indivíduo — ou à sociedade — as consequências desse desequilíbrio moral e emocional. Assim como o vingador se torna alvo da própria lógica que sustenta, a comunidade escolar sente os efeitos desse ciclo destrutivo, em que a autoridade se confunde com violência e a disciplina perde seu sentido educacional.

A COVID-19, enquanto fenômeno global, funcionou como uma resposta da própria natureza, desestabilizando estruturas humanas e revelando contradições profundas. A escola, sendo um espelho prototípico da sociedade moderna, reflete esses conflitos com nitidez: desigualdades, distorções de autoridade, prioridades equivocadas e a tentativa constante de mascarar responsabilidades. Em meio a esse cenário, torna-se evidente que somente uma revisão ética — pessoal, familiar e institucional — permitirá reorganizar o sistema educativo e, por extensão, a própria sociedade, que ainda aprende a lidar com os ecos de suas escolhas.


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Com base na minha análise sobre as contradições da escola em tempos de crise, preparei 5 questões discursivas simples. Elas abordam conceitos sociológicos como função social da escola, autoridade, desigualdade e a ética nas relações de poder. Use as ideias centrais do texto para estruturar suas respostas.

1 - Função Social da Escola e Contradição (Paradoxo): O texto aponta o paradoxo de alunos serem ausentes nas aulas, mas presentes e engajados em torneios esportivos. Analise criticamente esse contraste à luz da função social esperada da escola moderna. Como essa situação revela uma inversão de prioridades no significado que a escola assume para parte do alunado?

2 - Inversão de Valores e Papéis Sociais: O autor descreve uma inversão de valores, onde a figura do punidor (aquele que impõe medo) é mais reverenciada do que o educador (aquele que ensina e orienta). Explique como a busca por soluções externas (como clamor por modelos militares) se relaciona com a crise de autoridade legítima na sociedade e na escola, e por que o texto argumenta que punir não é educar.

3 - Autoridade e Violência (Ciclo Destrutivo): O texto relaciona a lógica da punição com uma imagem de "deus vingador", gerando um "ciclo destrutivo" onde a autoridade se confunde com violência. Discuta a diferença sociológica entre autoridade legítima (baseada em reconhecimento e princípios) e o uso da violência ou ameaça para controle. Como a perda do "sentido educacional" da disciplina afeta a comunidade escolar?

4 - Escola como Espelho da Sociedade: O texto afirma que a escola é um "espelho prototípico da sociedade moderna", refletindo conflitos como desigualdades e prioridades equivocadas. Justifique essa afirmação, citando dois exemplos de conflitos sociais (mencionados ou implícitos no texto) que são claramente visíveis ou reproduzidos no ambiente escolar.

5 - Revisão Ética e Reorganização Social: Diante das fragilidades expostas pela pandemia, o autor conclui que somente uma revisão ética permitirá reorganizar o sistema educativo e a sociedade. Defina o conceito de revisão ética no contexto proposto (pessoal, familiar e institucional) e argumente por que o texto a coloca como condição sine qua non (essencial) para lidar com os "ecos das escolhas" humanas.

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