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sábado, 1 de julho de 2023

Meu Epitáfio (O Defunto que Murmura)

 


Meu Epitáfio (O Defunto que Murmura)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ah, curiosos visitantes, eis aqui um defunto cujo espírito se agita além das fronteiras da vida terrena. Permitam-me contar-lhes, com este epitáfio gravado nas pedras que me envolvem, minha história final.

Na vida, testemunhei o fluxo inexorável do tempo e a frieza da morte. Não fui eu quem sucumbiu, mas sim aqueles que me cercavam. Um mero espectro, envolto na névoa que outrora compunha meu corpo perecível, ainda capaz de fazer-se ouvir.

Recordo-me vividamente do momento em que me deparei com a dolorosa verdade: fui eu quem se desnudou enquanto os outros viviam, envolvidos pelo mundo. Sinto-me presente em cada resquício que restou de mim, partícula que compõe minha essência, ciente de minha existência em suas memórias, mas igualmente consciente de que perdi a capacidade de perceber o mundo ao meu redor. No entanto, vocês podem me perceber, aproximem-se.

Que ironia macabra estar morto e, ainda assim, contemplar um mundo desprovido daqueles que antes caminhavam a meu lado. O eco de minha voz, agora apenas ecoando em suas lembranças, é um lamento silencioso que ressoa em meu ser. A ausência de suas presenças é um abismo insuperável, um vazio que jamais se preencherá.

Oh, como anseio vislumbrar seus sorrisos, envolver suas almas e compartilhar momentos que nunca mais retornarão. Contudo, tristemente, o véu que separa os vivos dos mortos é intransponível, e aqui me encontro aprisionado nesta existência solitária.

Ao refletir sobre esta jornada dolorosa, percebo de forma ainda mais profunda que a vida é efêmera e transitória. Cada encontro, cada elo que tecemos com o outro, é um presente valioso que devemos apreciar enquanto temos a oportunidade. Não permitamos que palavras não proferidas, gestos não feitos e amores não vividos se transformem em remorsos que nos assombrarão quando a morte bater à nossa porta.

Que esta minha narrativa, vinda além-túmulo, seja mais do que um simples epitáfio. Que ela ressoe como um clamor para todos. Aproveitemos plenamente a vida, honrando a memória daqueles que partiram e valorizando cada momento com aqueles que ainda caminham sobre a terra. Pois, no fim das contas, o que verdadeiramente importa é o legado que deixamos gravado no coração dos entes amados.

A morte não deve ser apenas o fim, mas também uma lembrança preciosa de que somos seres transitórios. Enquanto estivermos aqui, é nosso dever amar, compreender e valorizar aqueles que compartilham conosco a efemeridade desta existência.

Assim seja, agora e na vida eterna.

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