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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

OLIM(PÍADA) "TRAGICÔMICA" (Crônica humorística - No transporte coletivo urbano)

CRÔNICA

OLIM(PÍADA) "TRAGICÔMICA" (Crônica humorística - No transporte coletivo urbano)

Por Claudeci Ferreira de Andrade


         Começou uma movimentação já bastante vivenciada no ponto do ônibus para a cidade de Senador Canedo, dentro do Terminal Novo Mundo, às 17h. Os que estavam saboreando sorvete trataram de consumi-lo rapidamente, quem comia espetinho fez o mesmo. Levantei-me depressa do pé da grade divisória, onde estava sentado, pois estava tão cansado que até me dispus a levar algumas cotoveladas em troca de um assento qualquer ali dentro do ônibus. Que pena, foram só cotoveladas, as cadeiras já estão ocupadas! Agora, como um saco de pancadas para treinamento de boxeadores, levei pontapés, também. Ainda no "bolo de massa compacta", observei um cidadão dominado pelo espírito desportista. Era um jovem que resolveu continuar com seu sorvete empunhado, apenas o levantou para não esfregá-lo em ninguém, parecia um atleta conduzindo a Tocha Olímpica; foi abrindo caminho e, então, aproveitei o vácuo! Observei o sorvete derretendo rapidamente e visto que não queria perder uma só gota, sequer, do caldo rosado e delicioso que escorria primeiro pela sua mão, depois punho abaixo, destarte, resolveu abaixar o braço repetidas vezes para lambê-lo, trocava de mão e fazia o mesmo. Pensei: este tipo de flexão de braço é recomendado e praticado nas melhores academias da capital, deve balancear as calorias ingeridas do sorvete! Desta forma, finalmente entramos no veículo. Logo na curva de saída do terminal, vi o jovem jogar o resto do sorvete pela janela, porque precisava das duas mãos para se segurar firmemente. O ônibus foi manobrado com alta velocidade para um lado e nós fomos jogados para o outro. Para mim, agora, o jovem tornou-se um Halterofilista, levantando os seus, mais ou menos, oitenta quilogramas de massa corporal.
         Depois de dez minutos de viagem, começou um chuvisco, todos os passageiros das janelas levantaram-se para fechar os vidros, assim, num movimento harmonioso, como uma equipe de nado sincronizado! Dentro da nave, o ar ficou grosso e pesado, mas, talvez daqui, sairão alguns bons mergulhadores, aqueles que conseguirem sobreviver com baixa taxa de oxigênio e por cima, exercitando-se fortemente. Lá da frente, um atleta de tiro ao alvo resolveu dar o “tiro” da misericórdia, ao lado do motorista, antes da catraca, ele começou sorrir debochadamente. Logo a onda do riso foi andando para o fundão. Parecia uma competição de gargalhadas. Não demorou muito para alguém assumir o papel de treinador e gritar:
         — Respirem fundo para acabar logo o aroma.

         A chuva passou, ouvi uma sinfonia de vozes fracas de sufocados. Pareciam estar longe:
         — Abre logo os vidros se não vamos morrer! – eram as vozes dos que estavam no corredor da "morte".
         Então a equipe sincronizada levantou os braços de uma só vez e abriu as janelas. Eu, maratonista frustrado há muitos anos, perguntei-me. Quais desses tipos de exercícios são ideais para mim? Olhei para a tripulação, ninguém estava quieto na academia ambulante. Era um quebra-molas que nos fazia pular, ora uma curva acentuada que nos empurrava para os lados, ora uma depressão asfáltica que nos forçava outras flexões de pernas, ora uma acelerada, uma freada brusca...
         Concluí, então, que o segredo, para nosso sucesso naquela malhação, consistia apenas em fazer resistência a desorientada força da inércia. Estávamos quase chegando à Morada do Morro, quando escutei o motorista falar que estava atrasado, foi aí, lembrei-me que sempre tive que correr para viajar nos ônibus que quase sempre estão saindo. Somando essas corridinhas já se foram muitos quilômetros neste mês, ufa! Porém, estava relaxado e feliz porque teria massagem por mais três minutos consecutivos. A senhora obesa que me empurrava para lá e para cá resolveu mudar sua sacola de posição, mas continuaria esfregando em minhas pernas seus produtos congelados. Que “pena”! Desfalquei a comitiva no décimo ponto daquela linha.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 24/04/2009
Código do texto: T1558143

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