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MINHAS PÉROLAS

terça-feira, 30 de agosto de 2022

CULPA IM(PUTA)DA — "A firmeza de propósito é um dos mais necessários elementos do caráter e um dos melhores instrumentos do sucesso. Sem ele, o gênio desperdiça os seus esforços num labirinto de inconsistências." — Philip Chesterfield)


 

CULPA IM(PUTA)DA — "A firmeza de propósito é um dos mais necessários elementos do caráter e um dos melhores instrumentos do sucesso. Sem ele, o gênio desperdiça os seus esforços num labirinto de inconsistências." — Philip Chesterfield)

Por  Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã de segunda-feira quando entrei na sala dos professores, o ar carregado de frustração. Meus colegas, outrora vibrantes educadores, agora pareciam sombras de si mesmos, curvados sobre pilhas de papéis e laptops reluzentes. "Bom dia", murmurei, recebendo em troca olhares opacos e acenos desanimados.

Enquanto me servia de café, ouvi sussurros sobre as novas diretrizes da coordenação. "Agora querem ditar até o número de questões nas provas", lamentava Maria, professora de biologia há vinte anos. Observei o cenário à minha volta, sentindo como se estivéssemos presos em uma peça absurda, onde atores formados e concursados se tornaram marionetes nas mãos de superiores sem visão pedagógica.

Sempre me vi como um artesão da palavra, um jardineiro que cultivava mentes jovens. Mas, com a pandemia, senti-me mais como um robô programado para seguir ordens. A sala de aula, antes um palco de troca de ideias e construção do conhecimento, transformou-se em um estúdio virtual, onde eu era apenas mais um ator de uma peça sem público.

Lembrei-me dos meses de ensino remoto, quando investimos em equipamentos e planos de internet caros, tudo para garantir a qualidade das aulas. As diretrizes chegavam em um fluxo constante, como um rio caudaloso arrastando tudo em seu caminho. Plataformas digitais, novas metodologias, tudo precisava ser incorporado à nossa rotina de forma rápida e eficiente. E eu, como um bom soldado, seguia as ordens, adaptando-me à nova realidade. Mas, por dentro, sentia uma angústia crescente.

O sinal tocou, anunciando o início das aulas. Levantei-me, ajeitando a máscara no rosto - um lembrete constante dos tempos estranhos em que vivíamos. Enquanto caminhava pelos corredores, as palavras do ex-presidente Lula ecoavam em minha mente: "Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus". Paradoxalmente, a pandemia nos mostrou o valor inestimável da escola como espaço de convívio, cidadania e crescimento. Mas como exercer esse papel quando nos sentíamos tão tolhidos?

Na sala de aula, olhei para os rostos ansiosos dos alunos. Eles mereciam mais do que professores obedientes e temerosos. Mereciam educadores apaixonados, livres para inspirar e transformar. Naquele momento, compreendi que a verdadeira ameaça ao sistema educacional não era um vírus, mas a confusão deliberada, a desordem que corroía nossas bases como um câncer silencioso.

A pandemia revelou a fragilidade do nosso sistema educacional e acelerou um processo que já estava em curso: a mercantilização da educação. A escola, antes um espaço público e democrático, estava se transformando em uma empresa, onde a eficiência e a produtividade eram os valores mais importantes. E nós, professores, éramos os trabalhadores dessa empresa, submetidos a uma lógica de mercado que pouco se importava com nossa autonomia e com a qualidade do ensino.

Ao final do dia, exausto e reflexivo, percebi que a culpa não era dos professores, nem dos alunos, nem mesmo das coordenadoras pressionadas por resultados. Era de um sistema maior, que transformava a educação em um jogo de poder e sobrevivência. Saí da escola com uma certeza: não podíamos continuar assim. Era hora de recuperar nossa voz, nossa paixão pelo ensino. Porque se continuássemos a obedecer cegamente, por medo de perder nosso ganha-pão, perderíamos algo muito mais valioso - nossa capacidade de realmente educar.

É preciso que reflitamos sobre o papel da escola na sociedade. A educação não pode ser apenas mais um produto a ser consumido. Deve ser um espaço de formação de cidadãos críticos, criativos e engajados. Para isso, é fundamental que os professores tenham autonomia para construir suas próprias práticas pedagógicas e que a escola seja um lugar acolhedor, onde todos se sintam valorizados e respeitados.

A morte do sistema educacional, como o conhecíamos, talvez fosse inevitável. Mas de suas cinzas, com coragem e determinação, poderíamos construir algo novo, algo verdadeiramente transformador. A pandemia nos mostrou que a educação é um bem precioso que precisa ser protegido, e que a escola, mais do que nunca, precisa ser um espaço de esperança e de transformação.

Enquanto caminhava para casa, sob o céu alaranjado do crepúsculo, fiz uma promessa silenciosa: amanhã seria diferente. Amanhã, eu seria o professor que meus alunos mereciam. E talvez, apenas talvez, isso fosse o início da mudança que todos esperávamos.

Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e detalhadas para as seguintes questões:


O texto retrata a vivência de um professor durante a pandemia. Quais os principais desafios e dilemas enfrentados por ele e seus colegas nesse período?


Como a pandemia impactou a visão do narrador sobre a educação e o papel do professor na sociedade?


Qual a crítica principal do texto em relação ao sistema educacional atual?


O texto menciona a importância da autonomia dos professores. Explique como a falta de autonomia impacta a qualidade do ensino e o bem-estar dos educadores.


Qual a mensagem de esperança que o texto transmite? Como os professores podem contribuir para transformar a educação?


Estas questões abordam os seguintes aspectos do texto:


Desafios da educação durante a pandemia: A primeira questão busca explorar as dificuldades enfrentadas pelos professores nesse período.

Evolução da visão do narrador: A segunda questão analisa como a experiência da pandemia transformou a perspectiva do professor sobre seu trabalho.

Crítica ao sistema educacional: A terceira questão aprofunda a análise das falhas do sistema educacional atual.

Importância da autonomia: A quarta questão explora a relação entre a autonomia dos professores e a qualidade do ensino.

Mensagem de esperança: A quinta questão busca sintetizar a mensagem positiva do texto e a possibilidade de transformação.

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DIVERSÃO SE COMPRA, AMIZADE FALSA TAMBÉM ("É assim a vida, vai dando com uma mão até que chega o dia em que tira tudo com a outra". — José Saramago)

 


DIVERSÃO SE COMPRA, AMIZADE FALSA TAMBÉM ("É assim a vida, vai dando com uma mão até que chega o dia em que tira tudo com a outra". — José Saramago)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sexta-feira. O dia em que resolvi separar um pouco de dinheiro apenas para mim. De agora em diante, será um ritual: toda sexta terão meu "Sextou!".

Trabalhar é importante, sem dúvida, mas de que serve acumular recursos se não há tempo para desfrutá-los? Apesar das contas e compromissos que me aguardam, estabeleci uma nova prioridade: viver. Inspirado na frase de minha amiga Márcia Cristina — “Tenho pena de morrer!” — decidi investir em mim mesmo. Quero que minhas escolhas me conduzam à força e à serenidade, e que meus vínculos afetivos tenham o peso da autenticidade. Meu coração está aberto às pessoas, pois busco segurança, apoio concreto e, sobretudo, gente confiável.

Talvez tenha sido Deus quem ouviu minhas orações, ou talvez os ventos tenham conspirado a meu favor, trazendo-me recursos suficientes até para comprar amizades — ainda que falsas —, aquelas que, de algum modo, nos mantêm acompanhados. E viva o carnaval dessas cumplicidades de ocasião. O curioso é que, sabendo-as falsas, sinto-me autorizado a tratá-las na mesma medida, sem remorso algum.

Ainda assim, reconheço o risco de me acostumar demais a esse jogo de máscaras. A desilusão ensina a desconfiar, mas retribuir falsidade com falsidade pode aprisionar em um ciclo de isolamento. O verdadeiro desafio, talvez, não esteja em aceitar a superficialidade como estratégia de sobrevivência, e sim em ousar buscar conexões raras e genuínas — mesmo que escassas, mesmo que frágeis.

A falsidade protege, é verdade, mas somente nos encontros autênticos — ainda que raríssimos — a vida revela um sentido que perdura. É esse viver, mais sincero, que escolho celebrar.


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Vamos analisar juntos o texto que acabamos de ler. Ele nos faz refletir sobre temas muito presentes na Sociologia, como as relações sociais, o consumo e o individualismo na sociedade moderna. Com base nisso, preparei algumas questões para vocês responderem. Lembrem-se de usar suas próprias palavras e o que aprendemos em sala de aula para complementar as ideias.


1 - No texto, o narrador decide gastar dinheiro consigo mesmo como uma forma de "viver". Relacione essa atitude com o conceito de sociedade de consumo. De que forma o consumo é apresentado como uma busca por felicidade ou significado na vida do narrador?

2 - O autor discute a relação entre ter dinheiro e "comprar amizades". Baseando-se no texto, explique o que o autor entende por "amizades falsas" e por que ele se sente "sem remorso algum" ao tratá-las da mesma forma.

3 - O narrador faz a seguinte reflexão: "Ainda assim, reconheço o risco de me acostumar demais a esse jogo de máscaras." Explique o que seria esse "jogo de máscaras" e o perigo que o autor enxerga em se acomodar a ele.

4 - O texto contrasta as "amizades falsas" com as "conexões raras e genuínas". Com base nas ideias apresentadas, descreva a diferença entre esses dois tipos de relações e por que, para o autor, as relações genuínas são as que dão um "sentido que perdura" à vida.

5 - Em uma sociedade na qual as redes sociais e a valorização do individualismo são cada vez maiores, como o texto se conecta com a nossa realidade? Na sua opinião, quais são os maiores desafios para construir relações autênticas hoje em dia?

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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

PRAGA CANINA ("Agora, além de argentinos, a Argentina nos manda também gafanhotos." — Saint-Clair Mello)

 


PRAGA CANINA ("Agora, além de argentinos, a Argentina nos manda também gafanhotos." — Saint-Clair Mello)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje, com as possibilidades de crescimento de pragas como o Coronavírus e a Monkeypox, tudo parece estar ruim para a humanidade, um verdadeiro tiro no pé quando se recorre a métodos de combate ineficazes. Embora o destino seja incerto — afinal, "morre quem Deus quer" — a situação me faz crer que o mundo caminha para um fim, talvez em 2033, quando os 12 portais da cidade santa se abrirão. Desde já, o sofrimento se intensifica como "dores de parto", culminando com a queda do planeta X, que aniquilará a Europa antes de chegar a mim. É importante lembrar que, segundo certas crenças, uma dessas pragas matará os cachorros dos ímpios, objetos de sua adoração, pois quem adora animal, sacrifica criança. Não me coloco como profeta, apenas manifesto o que vim fazer.

E, antes que me acusem de exagero ou delírio místico, vale esclarecer que minhas imagens carregam tanto ironia quanto indignação. O humor aqui não é um alívio, mas uma estratégia de sobrevivência diante do absurdo. É nesse entrechoque que a crítica se fortalece: quando a lógica dos fatos se mistura à caricatura das crenças. Afinal, se a realidade já parece roteiro dos Simpsons, por que não rir de nossas próprias previsões de tragédia? O riso, mesmo amargo, ajuda a revelar o quão frágeis são as soluções que nos empurram como salvação.

Agora, os profetas de Baal interrompem o Carnaval para conter o vírus, o que se mostra igualmente inútil. Mas por que nada interrompe as eleições? Só me resta relaxar, "a fim de que não percas a oportunidade de viver com alegria", como diz André Luiz, e ver a sétima onda passar. A solução é deixar a vida seguir seu fluxo para cumprir o cruel destino deste mundo. Em meu tempo vago, vou continuar assistindo aos Simpsons.


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Preparei 5 questões discursivas, baseadas no texto, para que você reflita sobre as ideias apresentadas.


1. O texto mistura referências a fatos científicos, como a pandemia de Coronavírus, com crenças místicas, como a queda do planeta X. A partir de uma perspectiva sociológica, como podemos analisar a coexistência e o choque entre o conhecimento científico e as crenças religiosas ou místicas na sociedade contemporânea?

2. O autor menciona que suas imagens carregam "ironia" e que o "humor" é uma "estratégia de sobrevivência". De que forma a ironia e o riso podem ser usados como ferramentas de crítica social, ajudando a revelar a fragilidade de certas soluções propostas para os problemas da sociedade?

3. O texto critica a resposta a crises, mencionando a "inutilidade" de "profetas de Baal" interrompendo o Carnaval e questionando por que as eleições não são interrompidas. Qual é a crítica sociológica implícita nessa comparação entre eventos culturais/religiosos e eventos políticos, e o que isso revela sobre a prioridade dada a cada um?

4. Ao afirmar que "a solução é deixar a vida seguir seu fluxo para cumprir o cruel destino deste mundo", o autor expressa uma visão de fatalismo. Discorra sobre como essa atitude de resignação pode impactar a ação coletiva e a busca por mudanças sociais.

5. A frase "se a realidade já parece roteiro dos Simpsons, por que não rir de nossas próprias previsões de tragédia?" usa uma referência cultural popular para fazer uma crítica. Explique como a cultura pop, como séries de televisão, pode servir de base para a elaboração de comentários e críticas sobre a realidade social.

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domingo, 28 de agosto de 2022

INCOERÊNCIA ANIMALESCA ("A arbitrariedade desautoriza o árbitro." — Odair Alves de Oliveira)

 

INCOERÊNCIA ANIMALESCA ("A arbitrariedade desautoriza o árbitro." — Odair Alves de Oliveira)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Você ama tanto os animais que se "animaliza", comendo-os. Eu era assim. No entanto, meu estado de saúde me fez refletir sobre a analogia do Dr. Lair Ribeiro: "'se pescarmos um peixe no rio Tietê, operar seu tumor maligno, depois soltá-lo no mesmo rio, que progresso fizemos?'" Essa conclusão me levou a adotar o regime ovolactovegetariano. Alguma coisa precisava mudar. Como somos o que ingerimos, a escolha alimentar se tornou uma necessidade e um ato de consciência lógica, não de fanatismo. Por isso, minhas economias agora são gastas com comida de qualidade, já que não bebo, fumo, nem como carne. Não me presto mais a matar para comer.

E aqui encontro um paralelo inevitável: assim como a alimentação nos molda, a educação também nos constitui. Da mesma forma que ingerir veneno disfarçado de comida corrói o corpo, um ensino mal conduzido intoxica o espírito. Comer é digerir; aprender também. Se cuidamos do estômago para evitar doenças, deveríamos cuidar da mente para não reproduzir erros que nos adoecem em silêncio. Essa relação sutil mostra que, tanto na mesa quanto na sala de aula, somos o resultado daquilo que assimilamos, para o bem ou para o mal.

Em uma daquelas reuniões, uma professora disse que os alunos nos ensinam muito. "Contaminada" pelo pensamento de Paulo Freire, ela não tardou a se contradizer. Ao analisar os relatórios de desempenho, constatou que seus alunos erravam até o próprio endereço ao preencher as fichas da prova. O que, então, eles podem nos ensinar, se a maioria é tão incompetente?

Como disse Augusto Cury: “‘Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros.’” Portanto, é melhor que aprendamos com os nossos erros, pois o aluno não tem nada para nos ensinar e nem saberia como fazê-lo. No entanto, mesmo sem o saber, ele se sente à vontade para julgar nossa didática.


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Para nossa aula de sociologia, vamos analisar este texto que nos faz refletir sobre a complexa relação entre o que consumimos, o que aprendemos e a troca de conhecimento na sociedade. Leiam com atenção e, depois, respondam às questões a seguir para aprofundarmos a discussão.


1 - O autor estabelece um paralelo entre alimentação e educação. Com base nessa analogia, explique como a qualidade do que ingerimos (comida) e do que assimilamos (conhecimento) molda o indivíduo.

2 - No texto, o autor critica a ideia de que o professor aprende muito com os alunos. Analise essa crítica e discuta, a partir de uma perspectiva sociológica, quais seriam os desafios de uma troca de conhecimento horizontal em um sistema educacional vertical.

3 - O texto aborda a contradição de uma professora que, ao mesmo tempo em que elogia o que aprende com os alunos, se frustra com o baixo desempenho deles. Que tipo de dilema social e pedagógico essa situação revela sobre as expectativas no ambiente escolar?

4 - O autor menciona a frase de Augusto Cury: “‘Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros.’” De que forma essa citação se conecta à crítica do autor sobre a competência dos alunos em julgar a didática dos professores?

5 - A crônica toca em um ponto sensível: a percepção de que a sabedoria é adquirida de forma unidirecional (do professor para o aluno) e não na troca. Discuta como essa visão pode perpetuar desigualdades e como uma abordagem mais dialógica poderia desafiar essa estrutura.

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MIMIMI ("O sucesso está na contramão do mimimi".) — Diego Marcelo Sternheim)

 


O PRAZER DA ESCRAVIDÃO ("O verdadeiro prazer da vida é viver com gente que nos seja inferior." — William Makepeace Thackeray)

 


O PRAZER DA ESCRAVIDÃO ("O verdadeiro prazer da vida é viver com gente que nos seja inferior." — William Makepeace Thackeray)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O cavalo que não aceita cabresto é punido, mas mais estranho ainda é a galinha, que tem asas e vive no chão. Como um “bicho do mato”, carrego a ignorância que me permite ser feliz, mas os animais não precisam disso; a eles, basta a inocência. Na natureza, nenhum animal escraviza o outro; até os parasitas devolvem algo à vida. A relação é sempre vantajosa em algum aspecto, e as formigas operárias não são escravas, pois não têm chefe. Afinal, como disse Will Turner: “‘Nenhuma causa é perdida, se tivermos um só tolo para lutar por ela.’”

Foi observando essas contradições que notei como a sociedade humana imita mal a perfeição da natureza. Crescemos domesticados, acreditando que a obediência cega é uma virtude que nos acorrenta em silêncio. Somos treinados a aceitar cabrestos invisíveis na escola, na família e no trabalho, e chamamos isso de disciplina. A inocência animal se torna, em nós, uma docilidade forçada. Não surpreende que muitos prefiram a segurança de uma gaiola a arriscar o voo incerto da liberdade que dá medo.

Infelizmente, em toda a sociedade, há os “cultivadores de Bonsai”, que temem a sombra das árvores grandes e, de lá, chamam por mim, divulgando seu lugar seguro e se autodenominando promotores de autoajuda. Eles se contentam em ser seguidores, o que, para mim, é o contrário. Para eles, a vida é a de um “gado”, um povo marcado, mas feliz, como cantava Zé Ramalho: “‘Ê, ô, ô, vida de gado/ Povo marcado, ê!/ Povo feliz!’” Eu me recuso a ser assim.


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Para nossa aula de sociologia, vamos analisar este texto. Ele nos faz refletir sobre a liberdade e a obediência na sociedade. Leiam atentamente e, em seguida, respondam às cinco questões a seguir, que ajudarão a aprofundar nossa discussão.


1 - O autor compara a sociedade humana com a natureza. Com base no texto, explique como ele enxerga a diferença entre a "inocência" dos animais e a "docilidade forçada" das pessoas.

2 - O que o autor quer dizer com a expressão "cabrestos invisíveis"? Em que contextos, segundo o texto, as pessoas aceitam essa forma de controle?

3 - No texto, o autor se refere a alguns indivíduos como "cultivadores de Bonsai". Explique o significado dessa metáfora para a crítica que o autor faz a essas pessoas.

4 - A frase da música de Zé Ramalho, "Povo marcado, ê! Povo feliz!", é usada pelo autor. Qual é a crítica sociológica que ele faz ao se recusar a ser parte desse "povo"?

5 - O autor afirma que a liberdade é um "voo incerto que dá medo". Como essa ideia se conecta com a crítica feita à "segurança de uma gaiola"?

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