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MINHAS PÉROLAS

terça-feira, 23 de agosto de 2022

O RARO É CARO! ("Viver de graça é mais barato." — Guimarães Rosa)


 

O RARO É CARO! ("Viver de graça é mais barato." — Guimarães Rosa)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Aprovar alunos sem mérito na escola, que deveria ser uma instituição educadora para a vida, transmite a perigosa ilusão de que a existência é fácil e o sucesso, automático. Esse gesto de generosidade mal calculada, ao nivelar todos por baixo, corrói a vontade de lutar e dilui a dignidade. Afinal, a abundância sem esforço reduz o valor das conquistas — e todos sabemos que “o raro é caro”. Cresci ouvindo que era preciso ralar, suar, tropeçar e levantar para conquistar qualquer coisa. Hoje, porém, a escola parece se contentar em entregar medalhas sem corrida, troféus sem jogo, certificados sem aprendizado.

É nesse ponto que percebo a ironia do nosso tempo: o governo oferece estudo gratuito, mas se ausenta do processo, como se bastasse abrir a porta para que o saber entrasse sozinho. A ausência de cobrança, de rigor e de acompanhamento mina a vontade de aprender, e o espírito competitivo — que, em doses saudáveis, forja caráter — evapora. A dificuldade, antes vista como obstáculo a ser superado, torna-se agora um incômodo que todos evitam.

Lembro-me de quando a educação exigia espera: havia tempo para amadurecer, para errar, para experimentar e, então, aprender. Hoje, tudo se converteu em pressa. De um lado, multiplicam-se programas e modalidades, como o “mais educação”, que, no exagero, sufocam o essencial. De outro, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursos condensados apressam trajetórias, treinando jovens e adultos para uma impaciência crônica, típica de um mundo digital onde tudo se resolve com um clique.

E aqui me vejo diante de um dilema: será que essa pressa não é, na verdade, um convite à superficialidade? Quando transformamos o aprender em um produto instantâneo, corremos o risco de trocar a substância pelo simulacro. A educação, que deveria ser uma escada de degraus firmes, vai se tornando uma escada rolante: basta ficar parado, que ela te leva. Mas o destino, ao final, já não é o mesmo.

No fundo, a escola deixou de ser apenas espaço de ensino para se tornar palco de concessões e facilidades. E eu, como quem ainda carrega no corpo as cicatrizes das dificuldades que me fizeram crescer, só consigo concluir: quando tudo é dado, nada tem valor. A vida, assim como a educação, precisa do peso da luta para que a vitória seja digna. Sem esse esforço, formamos gerações que sabem colecionar diplomas, mas que não aprenderam a carregar o próprio fardo.


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A partir do texto, preparei 5 questões discursivas simples que podem ser usadas em uma aula de Sociologia para o Ensino Médio, explorando as reflexões sobre educação, esforço e sociedade.


1 - De acordo com o texto, qual é a principal crítica feita à prática de aprovar alunos "sem mérito"? Explique como essa atitude, na visão do autor, impacta a formação dos jovens.

2 - O autor afirma que "o raro é caro". Relacione essa ideia com a crítica que ele faz à gratuidade e à facilidade na educação. Como a dificuldade e o esforço podem agregar valor à aprendizagem?

3 - O texto menciona a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e cursos condensados como exemplos de "pressa" na educação. Em sua opinião, quais seriam as vantagens e desvantagens dessa aceleração do aprendizado na sociedade atual?

4 - O autor utiliza a metáfora da "escada rolante" para descrever a educação moderna. O que essa imagem sugere sobre a superficialidade do conhecimento e a falta de esforço, segundo o ponto de vista apresentado?

5 - O texto aborda a responsabilidade do governo e da escola no processo educativo. Analisando as ideias do autor, discuta a importância do "peso da luta" e do "esforço" para que a educação e o sucesso na vida sejam "dignos".

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