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MINHAS PÉROLAS

sábado, 13 de agosto de 2022

LIVRE-ARBÍTRIO SE APRENDE NA ESCOLA ("O professor só pode ensinar quando está disposto a aprender."— Janoí Mamedes)

 


LIVRE-ARBÍTRIO SE APRENDE NA ESCOLA ("O professor só pode ensinar quando está disposto a aprender."— Janoí Mamedes)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando alguém tem um conceito distorcido sobre qualquer aspecto da vida, todas as suas outras ideias acabam comprometidas. Como um "terraplanista" cristão pode convencer alguém de que “Jesus voltará nos ares e todo olho o verá”? Para sustentar tal ideologia, precisará recorrer a justificativas frágeis. Da mesma forma, que credibilidade tem um professor fumante e alcoólatra ao aconselhar: “Não faça o que eu faço”? Essa contradição, por si só, já o descredencia.

O conhecimento influencia o comportamento, assim como o comportamento molda o conhecimento; quando ambos se entrelaçam de forma incoerente, tornam-se inúteis. Somos definidos tanto por nossas ações quanto por nossas palavras. Aprende-se mais pelo exemplo e pela prática. “A árvore boa dá bons frutos, e os frutos bons revelam a bondade da árvore.”

A verdadeira liberdade de escolha só existiria se não houvesse possibilidade de arrependimento pelo que decidimos. O livre-arbítrio, portanto, é uma ilusão. “O satanás ensina isso, porque as pessoas também querem ser Deuses.”

Quando a ilusão do livre-arbítrio se infiltra na educação, cria-se o estudante que se acredita soberano, julgando-se autorizado a decidir quando aprender, o que respeitar e até a quem obedecer. Nas salas de aula, isso se traduz no aluno que negocia notas como se fossem mercadorias, que exige aprovações automáticas e que se recusa a cumprir tarefas porque “tem direito” a passar de ano. Nesse cenário, o professor deixa de ser mestre para se tornar refém das vontades do discente, temendo represálias de pais e gestores que, em vez de mediar, acatam as demandas mais absurdas. A hierarquia natural do saber é subvertida, e a autoridade do educador, que deveria ser instrumento de crescimento, é tratada como obstáculo a ser removido.

No campo da educação, o maior equívoco é tratar o aluno como patrão do professor. É “abominável a escrava que toma o lugar da sua senhora”! Mas o problema não se limita à metáfora bíblica: ele se materializa no cotidiano, quando a palavra do professor é constantemente colocada em dúvida e o mérito acadêmico é trocado por um falso conceito de inclusão. Ainda há quem jure que “paga” o meu salário, ignorando que, se um aluno da rede pública custa ao Estado 3 mil reais por ano, sou eu — e todos os demais contribuintes — quem financia a sua permanência ali. O termo “dar aula” torna-se irônico, pois, no fundo, pagamos para trabalhar, e, não raramente, para sermos maltratados por aqueles que deveriam ser nossos parceiros no processo educativo. No fim, a educação se transforma num campo onde até quem planta é impedido de colher, e onde a colheita, quando vem, já está contaminada pela indiferença e pela ingratidão.


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O texto que acabamos de ler é uma crítica muito rica e cheia de provocações sobre a educação e a sociedade. Para continuarmos nossa reflexão sociológica, preparei cinco questões que nos ajudarão a aprofundar as ideias apresentadas.


1 - O autor defende que a coerência entre o que se diz e o que se faz é fundamental para a credibilidade, usando o exemplo do professor fumante e alcoólatra. Na sociologia, como podemos analisar a importância do exemplo e da prática na formação das normas sociais e no processo de socialização?

2 - O texto aborda a ideia de que a crença no livre-arbítrio, quando mal interpretada, pode levar o aluno a se ver como "soberano" na sala de aula. Discuta como essa atitude impacta a hierarquia natural do saber e o papel da autoridade do professor como facilitador do aprendizado.

3 - O texto compara a relação professor-aluno a uma situação onde "a escrava que toma o lugar da sua senhora". Pensando nas relações de poder na sociedade, como a subversão da autoridade do professor pode ser um reflexo de mudanças mais amplas nas estruturas sociais e familiares?

4 - O autor critica a troca do mérito acadêmico por um "falso conceito de inclusão". Explique, a partir de uma perspectiva sociológica, as possíveis consequências para a qualidade da educação e para a valorização do conhecimento quando o mérito individual é desconsiderado em nome de outras prioridades.

5 - O texto conclui que o professor, no sistema de ensino público, "paga para trabalhar" e é "maltratado". Com base nas ideias apresentadas, analise como o financiamento da educação (pago pelos contribuintes) e a dinâmica de sala de aula (com a "indiferença e ingratidão" dos alunos) criam um cenário de desvalorização profissional.

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