O QUE SE ENSINA, APRENDE-SE! ("Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender". — Paulo Freire Pedagogia da Autonomia.)
No "velho normal", ser professor era vocação. Hoje, o ofício parece ter se tornado a última opção, acessível a qualquer um que tenha concluído um curso superior. Como afirma Flavines Rebolo Lapo, "se o professor não consegue outra atividade rentável, que garanta a sua sobrevivência e a de sua família, ele dificilmente deixará definitivamente o trabalho, por mais insatisfeito que possa estar". Assim, a sala de aula se torna refúgio para o advogado que não passou na OAB, o médico que não pode ver sangue, o engenheiro civil reprovado pelo mestre de obras, e tantos outros.
Essa realidade revela um ciclo de frustrações profissionais que deságua na escola, transformando-a em um depósito de carreiras mal resolvidas. O problema não está apenas em quem chega, mas na forma como o sistema os acolhe sem critério, nivelando a docência por baixo. Com isso, a autoridade do professor é corroída, não pelo esforço de ensinar, mas pela falta de reconhecimento de sua legitimidade. Nesse contexto, a pedagogia de Paulo Freire — que buscava a libertação — contrasta com um ensino acorrentado por improvisos e paliativos, incapaz de garantir a dignidade do mestre ou o compromisso do aprendiz.
Essa "lambança" sistêmica ensinou aos alunos que comportar-se ou fazer as atividades é um favor. Certo dia, uma aluna me pediu R$ 10,00 para assistir à aula em silêncio. Ela certamente pensou que meu sofrimento por vê-los bagunçar teria um preço, ou talvez tenha sido condicionada a pensar assim, de tanto receber presentes sem merecimento. A atitude se repetiu: outro aluno propôs que, se eu lhe pagasse o lanche, ele ficaria quieto. Essas propostas revelaram que, de tanto implorarem por atenção e bom comportamento, os alunos aprenderam a usar a própria conduta como moeda de troca, retaliando o sistema ao atrapalhar aulas e depredar o patrimônio público.
Afinal, quem precisa de uma boa aula? O professor, para garantir seu "ganha-pão" e manter o emprego, ou o aluno? Paulo Freire já ressuscitou, e eu não o vi?
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Com base no texto que discute temas tão relevantes para a Sociologia da Educação, preparei cinco questões discursivas e simples para aprofundarmos a reflexão.
1 - O texto afirma que o professorado tem se tornado um "depósito de restos de carreiras mal resolvidas". Discuta como a desvalorização da profissão docente e a falta de critérios de seleção podem afetar a autoridade e a legitimidade do professor em sala de aula.
2 - A crônica relata uma situação em que alunos pedem dinheiro ou favores para se comportarem. Analise esse comportamento a partir da Sociologia, abordando como a educação pode ser vista como uma mercadoria ou uma moeda de troca pelos estudantes.
3 - O autor menciona que a pedagogia de Paulo Freire visava "libertar", enquanto a situação atual do ensino estaria "acorrentada por improvisos e paliativos". Explique como os conceitos de "libertação" e "opressão", na visão freiriana, se relacionam com as dinâmicas de poder e com a falta de dignidade no ambiente escolar, conforme descrito no texto.
4 - O texto sugere que a "lambança" do sistema ensinou aos alunos que se comportar é um "favor prestado ao professor". Discorra sobre como essa lógica pode impactar a socialização dos estudantes, modificando suas noções de dever, responsabilidade e respeito pelas regras sociais.
5 - A frase final, "Quem precisa de uma boa aula? (...) é o professor (...) ou o aluno?", levanta um questionamento sobre o papel de cada um no processo de ensino-aprendizagem. Reflita sobre essa pergunta, considerando os diferentes capitais (social, cultural e econômico) envolvidos na educação e como eles podem influenciar o engajamento de professores e alunos.
No "velho normal", ser professor era vocação. Hoje, o ofício parece ter se tornado a última opção, acessível a qualquer um que tenha concluído um curso superior. Como afirma Flavines Rebolo Lapo, "se o professor não consegue outra atividade rentável, que garanta a sua sobrevivência e a de sua família, ele dificilmente deixará definitivamente o trabalho, por mais insatisfeito que possa estar". Assim, a sala de aula se torna refúgio para o advogado que não passou na OAB, o médico que não pode ver sangue, o engenheiro civil reprovado pelo mestre de obras, e tantos outros.
Essa realidade revela um ciclo de frustrações profissionais que deságua na escola, transformando-a em um depósito de carreiras mal resolvidas. O problema não está apenas em quem chega, mas na forma como o sistema os acolhe sem critério, nivelando a docência por baixo. Com isso, a autoridade do professor é corroída, não pelo esforço de ensinar, mas pela falta de reconhecimento de sua legitimidade. Nesse contexto, a pedagogia de Paulo Freire — que buscava a libertação — contrasta com um ensino acorrentado por improvisos e paliativos, incapaz de garantir a dignidade do mestre ou o compromisso do aprendiz.
Essa "lambança" sistêmica ensinou aos alunos que comportar-se ou fazer as atividades é um favor. Certo dia, uma aluna me pediu R$ 10,00 para assistir à aula em silêncio. Ela certamente pensou que meu sofrimento por vê-los bagunçar teria um preço, ou talvez tenha sido condicionada a pensar assim, de tanto receber presentes sem merecimento. A atitude se repetiu: outro aluno propôs que, se eu lhe pagasse o lanche, ele ficaria quieto. Essas propostas revelaram que, de tanto implorarem por atenção e bom comportamento, os alunos aprenderam a usar a própria conduta como moeda de troca, retaliando o sistema ao atrapalhar aulas e depredar o patrimônio público.
Afinal, quem precisa de uma boa aula? O professor, para garantir seu "ganha-pão" e manter o emprego, ou o aluno? Paulo Freire já ressuscitou, e eu não o vi?
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Com base no texto que discute temas tão relevantes para a Sociologia da Educação, preparei cinco questões discursivas e simples para aprofundarmos a reflexão.
1 - O texto afirma que o professorado tem se tornado um "depósito de restos de carreiras mal resolvidas". Discuta como a desvalorização da profissão docente e a falta de critérios de seleção podem afetar a autoridade e a legitimidade do professor em sala de aula.
2 - A crônica relata uma situação em que alunos pedem dinheiro ou favores para se comportarem. Analise esse comportamento a partir da Sociologia, abordando como a educação pode ser vista como uma mercadoria ou uma moeda de troca pelos estudantes.
3 - O autor menciona que a pedagogia de Paulo Freire visava "libertar", enquanto a situação atual do ensino estaria "acorrentada por improvisos e paliativos". Explique como os conceitos de "libertação" e "opressão", na visão freiriana, se relacionam com as dinâmicas de poder e com a falta de dignidade no ambiente escolar, conforme descrito no texto.
4 - O texto sugere que a "lambança" do sistema ensinou aos alunos que se comportar é um "favor prestado ao professor". Discorra sobre como essa lógica pode impactar a socialização dos estudantes, modificando suas noções de dever, responsabilidade e respeito pelas regras sociais.
5 - A frase final, "Quem precisa de uma boa aula? (...) é o professor (...) ou o aluno?", levanta um questionamento sobre o papel de cada um no processo de ensino-aprendizagem. Reflita sobre essa pergunta, considerando os diferentes capitais (social, cultural e econômico) envolvidos na educação e como eles podem influenciar o engajamento de professores e alunos.
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