CONFORMADO COM A INUTILIDADE HUMANA ("O certo muitas vezes é o errado conformado." — Renato Freitag)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Os velhos seguem vivendo como se o Coronavírus, a Monkeypox ou o vírus Langya jamais tivessem existido. Já não temem a morte — preferem enfrentar a doença a se submeterem a um simples exame preventivo. Durante a recessão, a quarentena ou o afastamento do trabalho, os jovens se desdobraram para driblar o sistema e não abrir mão da diversão. Nem mesmo os especialistas em pandemias conseguiram arrancá-los do senso comum; com o arsenal de informações disponíveis na internet, tornou-se quase impossível iludi-los. Ainda assim, a ignorância continua a prosperar em ritmo acelerado, especialmente entre aqueles que resistem ao uso das tecnologias mais elementares.
No fim das contas, cada um carrega o seu próprio destino — e nele, todos morrem. A vida parece um filme ruim. Este mundo desgraçado pode destruir tudo o que o amor construiu e me desclassificar por critérios egoístas, mas não vai me arrancar da velhice. Além do mais, não me empolgo em sua companhia. Na pobreza mora o descuido; na juventude, a falta de experiência; na doença, os maus traços da velhice.
Mas nem tudo está perdido. Às vezes, em meio à desordem, uma mão estendida, um gesto despretensioso, uma conversa na fila da farmácia — mesmo com máscaras — ainda consegue aquecer o peito. Há quem resista ao colapso das palavras com silêncio acolhedor e olhares que não julgam. É possível que a simplicidade do cotidiano, como um café dividido na varanda ou a visita inesperada de um neto, seja o que nos resta de humano entre os escombros da pressa e da indiferença. Afinal, estamos mesmo condenados à solidão, ou apenas esquecemos como se chega ao outro com humildade? Talvez o mundo não precise ser justo, mas poderia ao menos voltar a ser gentil.
Aqueles que se protegem excessivamente da discriminação — agora ainda mais aguerridos ao contra-atacar os acusadores — acabam condenados à solidão. Tudo em nome do amor ao próximo, pois muitos se afastam deles com medo de ofender. Se qualquer palavra pode soar como ofensa, e o simples ato de se aproximar é considerado um risco, então nos resta calar — à distância.
"Ser poeta não é minha ambição, é a minha maneira de estar sozinho."
(Fernando Pessoa)
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O texto que acabamos de ler nos provoca a pensar sobre temas super atuais, como as relações humanas em tempos de crise, a forma como lidamos com a informação e a solidão em uma sociedade complexa. O autor traz uma reflexão sobre a indiferença, a busca por conexões simples e os desafios da convivência. Para a Sociologia, isso é um prato cheio! Nos ajuda a discutir conceitos como comportamento social, individualismo, coesão social, o papel da informação na sociedade e a dinâmica das interações humanas no dia a dia. Vamos mergulhar juntos nessas ideias e aprofundar nosso olhar sociológico!
1 - O texto menciona que "os velhos seguem vivendo como se o Coronavírus (...) jamais tivessem existido" e que "os jovens se desdobraram para driblar o sistema e não abrir mão da diversão". Do ponto de vista da Sociologia do Comportamento, como podemos analisar as diferentes reações sociais de grupos geracionais (velhos e jovens) diante de uma mesma crise de saúde pública, como uma pandemia? O que explica essas atitudes distintas?
2 - Apesar do "arsenal de informações disponíveis na internet", o texto afirma que "a ignorância continua a prosperar". Discuta, sociologicamente, o conceito de desinformação ou "bolhas informacionais" na era digital. Como a grande quantidade de dados e a resistência ao uso de tecnologias podem, paradoxalmente, contribuir para a persistência da ignorância em certos grupos sociais?
3 - O autor expressa que "nem tudo está perdido", destacando gestos como "uma mão estendida" ou "um café dividido na varanda". A partir da Microssociologia, analise a importância das interações sociais cotidianas e dos pequenos gestos de gentileza para a manutenção do bem-estar individual e da coesão social, mesmo em um cenário de indiferença ou "solidão" generalizada.
4 - O texto aborda a questão da proteção excessiva contra a discriminação que, segundo o autor, pode levar à solidão, pois "muitos se afastam deles com medo de ofender". Como a Sociologia da Identidade pode nos ajudar a compreender as tensões entre a busca por reconhecimento e inclusão de grupos sociais e os desafios da comunicação e da interação em uma sociedade que teme "ofender" o outro?
5 - A frase de Fernando Pessoa, "Ser poeta não é minha ambição, é a minha maneira de estar sozinho", é citada no final do texto, que também questiona se "estamos mesmo condenados à solidão". Relacione essa reflexão com o conceito de individualismo na sociedade contemporânea. O que a Sociologia nos diz sobre as causas e as consequências da solidão em um mundo cada vez mais conectado, mas que pode paradoxalmente gerar distanciamento?
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