Prudêncio. Ainda me lembro dele, um gestor escolar que parecia carregar nos ombros não só a responsabilidade pela escola, mas o fervor de quem acreditava na força transformadora do conhecimento. Suas reuniões pedagógicas não eram encontros enfadonhos, repletos de informes burocráticos e resoluções apressadas. Não, com Prudêncio, cada reunião era um convite ao deslumbramento. Ele trazia consigo livros recém-descobertos, tratados que acabara de devorar, e fazia dessas leituras um convite para todos. Professores e funcionários saíam dessas conversas impregnados pelo entusiasmo de Prudêncio, que não apenas falava de educação, mas vivia para ela.
Houve um momento marcante em que um professor, desgastado por conflitos com um colega, viu Prudêncio intervir de forma surpreendente. Não houve advertências, ameaças de transferência ou redução de carga horária. Prudêncio, com sua serenidade habitual, sugeriu um livro. Não era uma solução comum, mas um mergulho na complexidade das relações humanas. Foi mais que um gesto; foi um exemplo de como a leitura pode ser um remédio para as feridas mais sutis. Essa abordagem sensível e intelectualmente rica deixava claro que Prudêncio via o saber como ponte, não como arma.
Mas o tempo passou, e essa sede de aprendizado parece ter se perdido. Hoje, vejo as “paradas pedagógicas” substituírem os cursos de capacitação de outrora, mas sem o mesmo brilho. O foco se deslocou para pautas burocráticas, enquanto o estímulo ao conhecimento foi relegado ao segundo plano. Há uma ausência gritante de debates significativos, de leituras compartilhadas, de trocas que possam realmente moldar o trabalho em sala de aula.
O cheiro de livro novo, aquele que Prudêncio tanto prezava, parece ter sido trocado por uma apatia coletiva. Mais do que nunca, sinto que os professores da escola pública precisam se reconectar com os livros, com o que há de mais novo e transformador em nossa profissão. Não se trata de acumular diplomas ou recorrer a fontes duvidosas; trata-se de buscar a sabedoria genuína, aquela que não só informa, mas transforma.
Recordo-me de uma frase lida em um dos livros que Prudêncio tanto recomendava: “É muito infeliz o líder de um povo pobre.” E essa pobreza, no contexto educacional, não se restringe à falta de recursos materiais; ela é uma pobreza de estímulo, de curiosidade, de envolvimento.
Acredito que é preciso mais do que lamentos; é preciso ação. Imagino o corpo docente se reunindo, não por obrigação, mas por paixão, para discutir livros, compartilhar experiências e buscar soluções. No lugar de conversas superficiais e informes de última hora, encontros produtivos, onde a educação ganhe o protagonismo que merece. Deixem o corriqueiro por conta das redes sociais.
Sonho com o retorno daquele entusiasmo que Prudêncio inspirava, um fervor que não dependia de discursos pomposos, mas de gestos simples e eficazes, como abrir um livro. Ele nos mostrava que só o conhecimento dá poder e que a sabedoria nasce na troca, no diálogo, na soma das experiências.
Se os desafios da educação recaem sobre os professores, que sejamos nós os agentes de nossa transformação. Que as palavras de Salomão ecoem em nossas práticas: “Na multidão dos conselhos há sabedoria.” E que, com o apoio de gestões visionárias como a de Prudêncio, possamos renovar o que a educação tem de mais essencial: a capacidade de despertar o melhor em cada um de nós.
Como um bom professor de sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas no formato de pergunta simples sobre os temas principais do texto:
1. Como o texto descreve a figura de Prudêncio e qual a importância de sua atuação para a comunidade escolar?
2. De que forma o texto contrapõe as práticas pedagógicas da época de Prudêncio com as observadas no presente?
3. Qual a crítica central do autor em relação à substituição dos cursos de capacitação pelas "paradas pedagógicas"?
4. Segundo o texto, qual a relação entre a falta de estímulo ao conhecimento e a "pobreza" no contexto educacional?
5. Que proposta o autor apresenta para a melhoria do ambiente escolar e o resgate do entusiasmo pelo aprendizado?